Faltam professores em 480 agrupamentos, mas norte também enfrenta carência e sobrecarga docente

A falta de professores continua a ser um dos maiores desafios do sistema educativo português. Na apresentação da proposta do Orçamento do Estado para 2026, o Ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, revelou que 480 agrupamentos de escolas ainda têm horários por preencher, 12 dos quais com dez ou mais vagas.

Micaela Barbosa
31 Out. 2025 3 mins
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“A 24 de outubro, nós tínhamos 1.240 horários por preencher”, afirmou o Ministro, reconhecendo que o número “pode já estar desatualizado”.

Segundo Fernando Alexandre, os horários em falta “estão todos concentrados” na Grande Lisboa, na Península de Setúbal, no Alentejo e no Algarve, onde o Governo pretende investir mais 118 milhões de euros em medidas de combate à falta de docentes.

Apesar de o Ministro sublinhar que a carência se concentra no sul do país, a presidente do Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE), Júlia Azevedo, alerta que as escolas do norte também enfrentam “sérias” dificuldades, em particular “nas zonas rurais e menos atrativas”.

Citando o estudo da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência intitulado “Estudo de Diagnóstico de necessidades docentes de 2025 a 2034”, a dirigente refere que “a região norte será aquela com uma maior necessidade de recrutamento de novos docentes, num total de 13.381 até 2034/35”. “Todas as medidas tomadas como incentivo e atratividade para a carreira docente, deverão ter um carácter nacional e não serem alocadas apenas a Lisboa e Algarve”, defende.

Para Júlia Azevedo, a ausência de docentes tem impacte direto nas aprendizagens e no funcionamento das escolas. “Compromete gravemente a regularidade das aulas e o cumprimento do currículo nacional, conduzindo, em muitos casos, à substituição por docentes não especializados ou mesmo à suspensão temporária de disciplinas”, explica, considerando que a instabilidade docente tem consequências especialmente graves nos anos de transição, 9º e 12º anos, quando os alunos enfrentam exames e decisões sobre o futuro académico. “A falta de professores deixa de ser apenas um problema laboral e transforma-se numa questão de equidade e justiça social, colocando em causa o direito constitucional à educação e a igualdade de acesso a um ensino público de qualidade”, sublinha.

Outros problemas estruturais que as escolas do norte enfrentam, segundo a presidente do SIPE, são a falta de pessoal auxiliar e técnico especializado, como psicólogos, terapeutas e assistentes sociais. “Há uma sobrecarga para os docentes de quadro com a cada vez maior atribuição de horas extraordinárias, aumentando o número de turmas e níveis por professor. Isto torna a gestão dos processos dos alunos cada vez mais desgastante e impessoal”, denuncia, alertando, ainda, para “as desigualdades digitais que persistem em algumas escolas periféricas, com dificuldades de acesso a equipamentos e conectividade”.

Para travar a crise de professores, o SIPE defende medidas estruturais e uma revalorização efetiva da carreira docente. “Falta ainda muito para garantir que ser professor em Portugal volte a ser sinónimo de prestígio, estabilidade e reconhecimento”, afirma.

Entre as prioridades apontadas estão a valorização salarial, a estabilidade contratual, a redução da burocracia e o reforço da formação contínua.

A dirigente sindical defende, também, apoios à mobilidade, subsídios de deslocação e alojamento, bem como um plano de reformas antecipadas que permita aos docentes sair com dignidade “depois de uma vida inteira dedicada à educação”.

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