A falta de professores continua a ser um dos maiores desafios do sistema educativo português. Na apresentação da proposta do Orçamento do Estado para 2026, o Ministro da Educação, Ciência e Inovação, Fernando Alexandre, revelou que 480 agrupamentos de escolas ainda têm horários por preencher, 12 dos quais com dez ou mais vagas.
“A 24 de outubro, nós tínhamos 1.240 horários por preencher”, afirmou o Ministro, reconhecendo que o número “pode já estar desatualizado”.
Segundo Fernando Alexandre, os horários em falta “estão todos concentrados” na Grande Lisboa, na Península de Setúbal, no Alentejo e no Algarve, onde o Governo pretende investir mais 118 milhões de euros em medidas de combate à falta de docentes.
Apesar de o Ministro sublinhar que a carência se concentra no sul do país, a presidente do Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE), Júlia Azevedo, alerta que as escolas do norte também enfrentam “sérias” dificuldades, em particular “nas zonas rurais e menos atrativas”.
Citando o estudo da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência intitulado “Estudo de Diagnóstico de necessidades docentes de 2025 a 2034”, a dirigente refere que “a região norte será aquela com uma maior necessidade de recrutamento de novos docentes, num total de 13.381 até 2034/35”. “Todas as medidas tomadas como incentivo e atratividade para a carreira docente, deverão ter um carácter nacional e não serem alocadas apenas a Lisboa e Algarve”, defende.
Para Júlia Azevedo, a ausência de docentes tem impacte direto nas aprendizagens e no funcionamento das escolas. “Compromete gravemente a regularidade das aulas e o cumprimento do currículo nacional, conduzindo, em muitos casos, à substituição por docentes não especializados ou mesmo à suspensão temporária de disciplinas”, explica, considerando que a instabilidade docente tem consequências especialmente graves nos anos de transição, 9º e 12º anos, quando os alunos enfrentam exames e decisões sobre o futuro académico. “A falta de professores deixa de ser apenas um problema laboral e transforma-se numa questão de equidade e justiça social, colocando em causa o direito constitucional à educação e a igualdade de acesso a um ensino público de qualidade”, sublinha.
Outros problemas estruturais que as escolas do norte enfrentam, segundo a presidente do SIPE, são a falta de pessoal auxiliar e técnico especializado, como psicólogos, terapeutas e assistentes sociais. “Há uma sobrecarga para os docentes de quadro com a cada vez maior atribuição de horas extraordinárias, aumentando o número de turmas e níveis por professor. Isto torna a gestão dos processos dos alunos cada vez mais desgastante e impessoal”, denuncia, alertando, ainda, para “as desigualdades digitais que persistem em algumas escolas periféricas, com dificuldades de acesso a equipamentos e conectividade”.
Para travar a crise de professores, o SIPE defende medidas estruturais e uma revalorização efetiva da carreira docente. “Falta ainda muito para garantir que ser professor em Portugal volte a ser sinónimo de prestígio, estabilidade e reconhecimento”, afirma.
Entre as prioridades apontadas estão a valorização salarial, a estabilidade contratual, a redução da burocracia e o reforço da formação contínua.
A dirigente sindical defende, também, apoios à mobilidade, subsídios de deslocação e alojamento, bem como um plano de reformas antecipadas que permita aos docentes sair com dignidade “depois de uma vida inteira dedicada à educação”.
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