No último dia de campanha eleitoral em Viana do Castelo, as ruas da cidade encheram-se de bandeiras e música de campanha, num ambiente animado, mas competitivo. À medida que se aproximava o silêncio eleitoral, cada candidatura procurava afirmar a sua narrativa de vitória e o clima político parecia dividido entre a continuidade, a rutura e o protesto.
Nas ruas, o ambiente oscilava entre entusiasmo e prudência. Militantes das principais forças garantiam “vitória certa”, enquanto os mais céticos lembravam que “tudo se decide nas urnas”. “As pessoas apoiam e querem mudança, mas há receio de que isso não se reflita nas urnas”, comentava um dos apoiantes.
A Aliança Democrática (AD) começou a manhã no mercado, com vários candidatos às juntas e uniões de freguesia do concelho. O ambiente era animado e os populares mostraram-se recetivos, com muitos a desejar “boa sorte” e a expressar vontade de mudança. “Apresentámos as nossas propostas e penso que as pessoas são unânimes ao concordar que lideramos o debate político”, afirmou o cabeça-de-lista, Paulo Morais.
Para o candidato, a campanha “correu de forma exemplar” sustentada numa equipa “de gente séria, capaz e corajosa”. “ “Vamos trabalhar para recuperar o atraso económico de Viana. Um vianense tem hoje metade do rendimento médio de um espanhol. Isso não pode continuar”, defendeu.
Pouco depois, o Chega chegou ao mesmo local e cruzou-se com a AD. O encontro, apesar das rivalidades, decorreu num clima cordial, com trocas de cumprimentos e palavras de ambos os lados. “A nossa campanha foi limpa e entusiasmante. Discutimos ideias e fomos recebidos com enorme acolhimento”, disse, confiante numa “vitória do povo que não se resigna”. “Se o povo votar, fará a mudança. Se não votar, engolirá mais do mesmo”, alertou.
Mais no centro, o Bloco de Esquerda circulava discretamente. A música era mais baixa e o ritmo mais calmo. Os panfletos eram aceites com simpatia, mas poucos paravam para ouvir.
O candidato, Carlos Torre, mostrou vontade em “eleger pelo menos um vereador”. No entanto, lamentou que a campanha “não tenha sido suficientemente esclarecedora”, sobretudo, na questão fiscal. “Faltou dar ênfase aos contrastes entre as diferentes forças políticas. Alguns partidos prometeram devoluções fiscais que, na prática, só beneficiarão uma minoria muito pequena. É dinheiro que o Município deixará de ter para responder aos problemas reais das populações”, criticou.
O PS, pelo contrário, marcou presença visível. Luís Nobre percorreu o comércio local, cumprimentando comerciantes e clientes, e recebendo palavras de incentivo. Aliás, houve quem lhe garantisse o voto. “Precisamos de estabilidade para dar continuidade ao trabalho que está em curso. É fundamental que os indecisos percebam que o projeto mais sólido é o nosso”, afirmou, falando de um “encerramento emotivo” e de uma receção “carinhosa e surpreendente” por parte dos eleitores
Também a CDU esteve nas ruas, apostando num contacto direto e sereno. Sem música, nem carros de som, José Flores encerrava uma campanha “de grande mobilização” e “com excelente receção”. No entanto, reconhece que este “há mais incerteza”. “Há quatro anos sabíamos onde estávamos. Agora, tudo parece mais imprevisível. Podem surgir grandes surpresas”, admitiu.
À margem das ações no centro, Luís Arezes, do Alternativa Democrática Nacional (ADN), sublinhou a “força de uma verdadeira alternativa”. “Percorremos o concelho de norte a sul com uma mensagem clara de que Viana do Castelo precisa de mudança, transparência e coragem política”, afirmou, criticando a “exclusão injustificada” do ADN de alguns debates. “Essa atitude, sem sentido democrático, tentou silenciar a nossa voz. Mas não conseguiram. Levámos a mensagem diretamente às pessoas”, garantiu.
Já a Iniciativa Liberal mostrou, no passado dia 9, com a presidente do partido, Mariana Leitão, confiança nos resultados de um partido que concorre, pela segunda vez, às autarquias e não tem qualquer vereador eleito. “Temos a convicção de que efetivamente vamos conseguir eleger vereadores em candidaturas próprias e que vão fazer toda a diferença naqueles municípios em que vamos, de facto, conseguir ter a Iniciativa Liberal a exercer o poder nas autarquias locais”, afirmou.
Com o fim da campanha, fica a sensação de um concelho politicamente dividido, onde nenhuma vitória parece garantida. Essa perceção também se refletiu num inquérito informal lançado pela conta Intralistas – Análise Eleitoral, na rede social X (antigo Twitter), que recolheu 214 respostas. A 8 de outubro, os resultados eram: entre os participantes, 47% apontaram a AD como provável vencedora, 42% o PS, 9% o Chega e 3% a CDU.
Embora sem valor estatístico, nem reconhecimento da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), o inquérito ilustra o equilíbrio da disputa em Viana do Castelo. O projeto, que se define como um exercício “de análise eleitoral suportado por inquéritos de participação livre”, não utiliza amostras representativas, limitando-se a refletir a perceção dos utilizadores da plataforma.
Ainda assim, os dados reforçam o ambiente observado nas ruas: um concelho dividido entre continuidade e mudança cujo desfecho só será conhecido nas urnas.
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