Esta semana, enquanto o mundo se despedia de Francisco, foi difícil não pensar no contraste entre a sua voz serena e o ruído constante de tantas instituições. Francisco nunca precisou de gritar para se fazer ouvir. O seu impacto não veio do volume, mas da coerência entre aquilo que dizia e aquilo que fazia. A sua vida foi, acima de tudo, um apelo à dignidade — não apenas à fé.
E foi essa coerência que nos fez olhar para o seu legado como juristas e cidadãos. Porque o que Francisco nos mostrou — com gestos simples e palavras diretas — é que o Direito, tal como a fé, só cumpre a sua missão quando está ao serviço da justiça com humanidade. Quando se aproxima dos mais frágeis. Quando reconhece que proteger é mais importante do que punir. Quando escuta antes de decidir.
Vivemos tempos em que os sistemas se tornam muitas vezes mais importantes do que as pessoas. O processo vale mais do que o rosto. O prazo sobrepõe-se à verdade. O formalismo afasta-se da realidade concreta de quem sofre, de quem falha, de quem precisa. E, nesse cenário, o exemplo de Francisco soa como um lembrete essencial: não basta cumprir a norma se esquecermos a vida que ela deveria servir.
Na QUOR, não nos revemos num Direito cego ao contexto ou surdo à fragilidade. Acreditamos que justiça sem escuta é imposição. Que aplicar a lei sem empatia é tecnocracia. E que uma sociedade justa não se constrói apenas com artigos e códigos — constrói-se com consciência, presença e compaixão. Francisco não nos ensinou Direito, mas ensinou-nos a escutar melhor. A sermos menos rápidos a julgar. A estarmos mais atentos aos que ficam para trás.
O seu exemplo não morre com ele. Permanece como exigência. Porque mais do que líderes, o mundo precisa de referências. E o Direito, mais do que técnica, precisa de alma.
Obrigado, Francisco. Pela coragem de mostrar que servir, no fim, é o mais nobre dos actos de justiça.
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