Dependência digital

Pe. José Lima
14 Ago. 2025 3 mins
Padre José Lima

1 –  O período que se atravessa é muito propício para debelar dependências nas mais tenras idades: os mais novos podem estar muito mais tempo acompanhados pelos pais, avós e irmãos mais crescidos; podem ainda ser atraídos por atividades mais acompanhadas pelos mais velhos. Durante o resto do ano, entregues aos seus estudos e a horas de lazer, podem facilmente ser atraídos por atividades de telemóveis, de consolas ou de outros dispositivos que hoje campeiam no mercado e que seus pais facilmente lhes entregam, até para estarem quietinhos.

Porém uma tal quietude pode ser muito rapidamente criadora de dependências que só meses mais tarde se diagnosticam: os pais gostam de ver os filhos a manejar o que para eles  tem dificuldade ou até é novidade total disforme.

É certo que o mundo digital é uma realidade que a todos envolve, pais, avós, filhos e netos. Os mais velhos podem sentir-se realmente ultrapassados nos seus conhecimentos, pois hoje as realidades do foro virtual são quotidianas. Os mais novos são atraídos e os mais velhos deliciam-se a ver passar a procissão das coisas que crianças e jovens consideram fulcrais e com elas mantêm assíduo contacto. O mundo mudou de plano e a primazia passa lentamente para a esfera competente dos mais novinhos: é frequente vermos avós chieirentas com os avanços dos seus netos/as com quem passam momentos felizes de aprendizagem. Passar para o mundo virtual implica muitas lições que as crianças e os jovens nos vão administrando.

2  – Sempre foi assim no intercâmbio das gerações;  hoje, porém, tudo parece muito mais rápido, sobretudo no acesso instantâneo a soluções do mundo virtual que entra em nossa casa, sem mesmo pedir licença. No tempo presente em que vivemos mesmo para ligar a televisão temos de passar por plataformas de virtualidade, além do complexo de redes sociais com o qual nos debatemos quotidianamente e do labirinto da IA, que vamos incorporando. Seja como for, o mundo virtual é já o nosso, até para adquirirmos os objetos mais elementares e para satisfazermos as necessidades básicas da alimentação e de higiene.

O cenário que vem e o cenário que vai passando obrigam-se mutuamente, impondo cada vez mais uma sólida convivência e uma interajuda mútua. Está aqui um desafio constante, o de conversar para vivermos juntos. Ficar escravo das plataformas virtuais pode gerar uma geração de homúnculos que se dispensam mutuamente, enquanto se escravizam num mundo que enreda, mas não dá nada para comer nem vestir.

Gerar dependências é fácil, mas o mundo real continua a precisar de alimento, de vestuário, de higiene, de brincadeira, de férias, de trabalho. O virtual descomplica o real, mas não o destrói. Importa ser realista, colaborador e amigo sem deixar de ser sábio. Sobretudo colaborem todos para que o mundo atual seja viável, com muita sabedoria, que escasseia demasiado.

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