Da Tempestade veio a bonança: Só maiorias, mas algumas surpresas

As eleições autárquicas de 2025 no Alto Minho foram marcadas por uma aparente contradição: de uma campanha envolta em incerteza e previsões de disputa renhida, nasceram maiorias absolutas em todos os concelhos. O eleitorado, longe de se fragmentar, optou por soluções de estabilidade, reforçando lideranças tradicionais ou transferindo confiança para novas gestões de forma clara e inequívoca.

Notícias de Viana
13 Out. 2025 5 mins
Tomada de posição da ACEGE sobre as eleições legislativas

O resultado regional é, assim, menos um mosaico de surpresas e mais um retrato de consolidação. Ainda assim, houve momentos politicamente significativos, com Melgaço e Caminha a mudarem de cor política, Valença a confirmar o reforço socialista e Ponte de Lima a reiterar a singularidade do domínio do CDS.

Apesar da subida percentual do Chega (CH), o partido não conseguiu transformar o aumento de votos em influência autárquica real, mantendo-se fora de qualquer capacidade executiva.

Arcos de Valdevez: Continuidade sem sobressaltos

Em Arcos de Valdevez, o PSD manteve uma sólida maioria absoluta, alcançando 58,67% e elegendo cinco vereadores, o mesmo número de 2021. O PS recuou ligeiramente para 23,91%, e o Chega, com 11,15%, afirmou-se como terceira força.
Não houve, porém, qualquer alteração estrutural no equilíbrio político local: trata-se de um concelho de forte tradição social-democrata, onde a estabilidade continua a ser o traço dominante.

Caminha: Mudança de cor, mas vitória clara

Em Caminha, a expectativa de uma eleição incerta deu lugar a uma mudança efetiva de poder. A coligação PPD/PSD.CDS-PP.PPM venceu o PS por uma margem estreita em votos — 4.579 contra 4.549 —, mas suficiente para garantir maioria absoluta (4-3).
Embora o resultado numérico revele equilíbrio, politicamente trata-se de uma vitória inequívoca do PSD, que conquista a câmara e rompe a sequência socialista. Não depende, portanto, de qualquer negociação pós-eleitoral.

Viana do Castelo: Complexidade eleitoral numa vitória socialista

Na capital distrital, o PS manteve a presidência da câmara com 42,76%, ligeiramente abaixo dos 45,05% obtidos em 2021. O PSD, por sua vez, subiu em votos absolutos (mais de 2.800), alcançando 28,02%.
O Chega conseguiu eleger um vereador com 14,98%, mas a sua influência prática permanece limitada.
Estes números revelam um comportamento eleitoral complexo: tanto o PS como o PSD cresceram em votos, mas perderam ou ganharam percentagens devido ao aumento da participação. A esquerda continua dominante, mas com uma base mais fragmentada.

Ponte de Lima: A constância centrista

O CDS-PP voltou a vencer com folga, atingindo 53,06%, reforçando a maioria obtida em 2021 (43,38%). Falar de “regresso” seria incorreto — o partido nunca perdeu o controlo de Ponte de Lima, mantendo há anos uma ligação orgânica e consistente com o eleitorado local.
O CDS-PP é aqui menos uma força residual e mais uma instituição enraizada, cuja liderança local continua a ditar o ritmo político concelhio.

Ponte da Barca: Reforço com mais votos, mas menor percentagem

O PSD consolidou o poder com 56,08%, conquistando cinco vereadores. Apesar de uma ligeira descida percentual face a 2021, o partido aumentou o número total de votos, o que traduz um crescimento em termos absolutos.
O PS, com 29,09%, mantém uma presença significativa, mas insuficiente para ameaçar a maioria social-democrata. O concelho mantém a sua orientação estável à direita, com uma base eleitoral participativa.

Paredes de Coura: Socialismo resiliente

Em Paredes de Coura, o PS voltou a vencer com 61,39%, assegurando quatro mandatos. Apesar de uma ligeira descida face a 2021, o partido mantém um domínio confortável.
O PSD subiu para 25,74%, enquanto o Chega (6,24%) se afirma simbolicamente sem impacto executivo. Coura continua a ser um dos bastiões mais estáveis do socialismo minhoto.

Vila Nova de Cerveira: Vitória socialista e um fenómeno curioso

O PS reforçou a sua posição em Cerveira, com 59,38%, face aos 50,69% de 2021. O PSD manteve-se como segunda força (29,40%), e o Chega, com 6,97%, obteve uma votação expressiva mas inferior às suas performances legislativas.
Este desfasamento mostra que o voto de protesto em Cerveira é mais volátil em eleições locais, confirmando a força das dinâmicas autárquicas tradicionais sobre os novos movimentos.

Valença: A consolidação socialista

Em Valença, o PS obteve 58,95%, reforçando-se de forma significativa face a 2021 (40,01%). O PSD caiu ligeiramente para 27,13%, e o Chega, com 10,07%, completa o pódio.
O resultado consolida o PS num concelho marcado por volatilidade, devolvendo-lhe uma maioria clara e estável.

Monção: Uma maioria reforçada à direita

O PSD ampliou a maioria absoluta, atingindo 66,47%, num dos resultados mais expressivos do distrito. O PS caiu para 22,14%, enquanto o Chega se fixou nos 6,49%.
Monção confirma-se como um território de forte identificação com a social-democracia, sem sinais de erosão eleitoral.

Melgaço: Viragem histórica para o PSD

Depois de décadas sob liderança socialista, Melgaço viveu uma viragem marcante: o PPD/PSD.CDS-PP conquistou 53%, destronando o PS, que recuou para 40,77%.
A inversão, embora localizada, tem peso simbólico: é a mais nítida transição de poder autárquico no Alto Minho em 2025, mostrando que até bastiões históricos podem mudar sob lideranças locais credíveis.

Tags Política

Em Destaque

Notícias atuais e relevantes que definem a atualidade e a nossa sociedade.

Opinião

Espaço de opinião para reflexões e debates que exploram análises e pontos de vista variados.

Explore outras categorias