Chamado ao Consultório: Afinal, o que é “um copinho”?

Maria Luís Cambão
22 Set. 2025 3 mins
Maria Cambão

As estatísticas não enganam, Portugal é o país da União Europeia onde o consumo de álcool diário é mais frequente, sendo que 1 em cada 5 pessoas bebem álcool todos os dias.

Uma verdade na qual não custa acreditar. Afinal, a maioria de nós, sobretudo os naturais do Minho, cresceu a saber que, à mesa, não podiam faltar nunca o pão e o vinho, pois “um copinho, nunca fez mal a ninguém”. Mas, o que é um “copinho”? Para uns, 200 mililitros, para outros, meia garrafa, para outros até, uma garrafa de litro e meio por refeição. Estará alguém certo? Este mês, é Chamado ao Consultório para o tentar descobrir.

Infelizmente, a confusão é real. E nisto, o marketing não ajuda. Todos sabemos, ouvimos e lemos, que se deve beber com moderação. Mas poucos sabemos o que é isto de moderação. Eu ajudo. Classicamente, um consumo moderado de álcool é o equivalente a 1 bebida por dia, nas mulheres, e a 2 bebidas por dia, nos homens, sendo que, a partir dos 65 anos, é 1 bebida por dia para ambos. Para que entenda melhor, quando falamos de uma bebida, referimo-nos a uma cerveja (200 mL) ou 1 copo de vinho (100 mL), enquanto um copo de whisky de 50 mL, por exemplo, já equivale a duas bebidas.

É do conhecimento geral que o álcool é uma substância que causa dependência, à semelhança de outras drogas, e é-nos fácil associar essa dependência ao aparecimento de vários problemas graves de saúde. Contudo, tem-se percebido que, mesmo o consumo de pequenas quantidades de álcool pode representar riscos, nomeadamente relacionados com cancro. Por esse motivo, o conceito de “consumo moderado” foi abandonado, sabendo-se atualmente que não existe um consumo seguro de álcool, sendo a abstinência o mais recomendado.

O importante fator cultural associado ao consumo de álcool, bem como toda a publicidade que existe em torno do seu consumo, faz com que não seja fácil abordar este assunto e encará-lo como sendo uma escolha que acarreta riscos. Mas, de facto, eles existem. Aumenta o risco de doenças, de acidentes, de conflitos familiares, e isso tem que ser transmitido às pessoas. Podemos tomar a decisão de beber um copo de vinho, mas temos de fazê-lo conscientes dos riscos, e nunca achando que não existe qualquer problema associado. Como em tudo na vida, é uma questão de escolhas. E as escolhas que fazemos hoje, podem definir a forma como vamos envelhecer. E acredite, é muito diferente ter 80 anos a poder continuar a ir ao café ler o Notícias de Viana e comentá-lo com os seus amigos, ou ter 80 anos e ter que esperar que o venham visitar porque já não está capaz de sair de casa. Faça a experiência por si, deixe de beber e verá que terá mais energia, não terá tantos problemas de memória, a sua hipertensão arterial e diabetes ficarão mais controladas, dormirá melhor e poupará dinheiro que poderá gastar noutras situações que, de certeza, lhe irão dar mais prazer.

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