Todos os Domingos, a Casa Viana recebe dezenas de famílias. Estudam a Bíblia juntos, partilham refeições e rezam juntos. A sua missão é “partilhar o amor de Deus e fazer discípulos de Jesus Cristo, ensinando-os a obedecer ao que Ele ensinou, para Sua glória”.
São quase 16h e a casa de Nuno Moleira e Gilberta Oliveira, em Santa Marta de Portuzelo, está pronta para receber as famílias. Luz baixa, sofás e cadeiras, uma mesa com comida e bebidas e, ao centro, um espaço com um quadro onde está escrito “Jesus”.
Não há ninguém que fique por cumprimentar. E, é com um abraço, um beijo ou um aperto de mão que todos são acolhidos.
Cada um traz a sua Bíblia. Inicialmente, adultos e crianças juntam-se num momento musical, que ficou à responsabilidade do casal Marcelo e Marjorie Ferreira, e uma das suas filhas.
Durante um momento a que chamam “adoração”, celebram a ceia, distribuindo pão e vinho aos participantes, e cumprimentam-se uns aos outros.
No final, as crianças sobem para o andar de cima para o Kingdom Kids, onde se ensina as escrituras às crianças, “a fim de que conheçam e amem a Deus e a Seu filho Jesus Cristo, e vivam para Sua glória no poder do Espírito Santo”. Os adultos mantêm-se nos lugares e leem, refletem e partilham a Palavra de Deus.
Naturais de Viana do Castelo, Nuno Moleira e Gilberta Oliveira são casados desde 1999 e têm dois filhos: Leonor e Diogo. Nuno formou-se como engenheiro civil e Gila como professora. No entanto, atualmente, nenhum trabalha na área. Durante dez anos, trabalharam fora de Portugal e, em 2017, Deus chamou-os a serem “missionários”.
Em 2018, abriram as portas da sua casa para receber as pessoas para “ler a Bíblia, conhecer melhor Jesus, e viver em comunidade”. “Começámos com um grupo entre 15 e 20 pessoas. A maior parte vinha do Porto e era constituída por estrangeiros”, contaram, lembrando o período “difícil” da Covid-19. No entanto, “o grupo tem crescido” e, hoje, integra famílias “só de Viana do Castelo e arredores”, como Caminha, Ponte de Lima e Barcelos. “Temos ainda famílias dos Estados Unidos da América do Norte, Argentina, Brasil e Colômbia”, acrescentaram.
Para Nuno, o pastor, a Casa Viana é “uma Igreja de Cristo”. “Todos são bem-vindos”, sublinhou, explicando que conhecem Jesus “para lá da tradição religiosa”. Como “relacionamento pessoal”.
Sem denominação, a Casa Viana assume-se como “uma comunidade de discípulos de Jesus Cristo”. “Temos pessoas de várias denominações, desde a católica, protestante, evangélica e outras. O nosso foco é Jesus Cristo”, afirmou Gilberta, defendendo que, enquanto “as pessoas não O encontrarem, vão estar sempre à procura”. “Não há satisfação de nada. Não há igreja. Não há religião. Não há viagem espiritual que irá preencher o vazio que existe no coração de cada ser humano”, argumentou, continuando: “E, esse vazio tem o formato de Deus. Só quando O encontram verdadeiramente é que ficam saciados, acabando por viver de acordo com o que Ele quer para a vida de cada um.”
Aqui, as famílias leem e falam da Bíblia. “Não há estratégia”, garantem, frisando que “Jesus Cristo não é uma moda. É o caminho, a verdade e a vida”. “Há muito encontro com Deus verdadeiro. Um Deus que as pessoas percebem que é um Deus de amor. Um Deus que é Pai e que vai para lá de rituais e de cumprir com determinadas coisas. Há um encontro real com um Deus verdadeiro e vivo. E, isso transforma por dentro. Ou seja, deixa de ser uma coisa do exterior e passa a ser algo que tem a ver com o coração. Deixa de ser uma teoria e uma coisa abstrata e passa a ser uma coisa muito real, deixando de lado a ideia de um Deus omnipotente e distante. Afinal, é um Deus que está próximo e de braços abertos”, argumentou Nuno.
“Não dá para ficar indiferente”
Anita Rodrigues é de Vila Fria e, numa fase “difícil” da sua vida, encontrou-se com Jesus Cristo. “Foi inexplicável. O Senhor falou-me através de uma amiga minha, que já não falava há algum tempo. E, enquanto ela profetizava a Palavra do Senhor, emocionava-se sempre”, recordou, assegurando que, hoje, percebe que aquelas palavras eram para ela. “Fui desafiada a participar no Alpha e comecei a frequentar a Igreja. Trouxe a minha mãe, a minha irmã e os meus sobrinhos, e o meu marido e a minha filha”, referiu, contando que foi Nuno quem os batizou e casou. “Abri o meu coração ao Senhor e espero que ele se mantenha aqui”, frisou.
Já Miguel Brandão é de Geraz do Lima e também teve a confirmação de que “Deus era real”. “Não dá para ficar indiferente”, admitiu, recordando: “Tinha um sonho de ter uma rulote de comida. Sempre tentei ter uma, mas nunca consegui. Um dia, Deus falou comigo e, dali a umas semanas, apareceu uma oportunidade.”
Após esta experiência, o jovem começou a ler a Bíblia e fez uma pesquisa na internet para encontrar uma comunidade. “O Espírito Santo conduziu-me até aqui e tem sido uma experiência incrível. A vida com Jesus é completamente diferente”, afirmou, confidenciando que a sua vida esteve ligada às drogas e à vida noturna. “Pedi a Deus para me libertar disso tudo e consegui libertar-me de todos os vícios”, referiu, destacando que encontrou amor na Casa Viana. “Sei que Jesus tem grandes coisas para mim e, no que diz respeito ao negócio, estou a preparar as coisas e será muito mais do que uma rulote de comida, partilhando a Palavra de Jesus”, acrescentou.
Para além destes encontros ao Domingo, a Casa Viana faz batismos, celebra casamentos, promove o Alpha (série de sessões que exploram a fé Cristã, abordando diferentes temas) nas prisões e participa em algumas iniciativas municipais e comunitárias. “No Natal, vamos participar nas festividades de Natal da cidade com músicas de louvor, na Praça da Liberdade”, revelou Gilberta.
Já sobre a experiência nas prisões, Nuno reconhece “o desafio” pelo movimento “constante” dos reclusos, destacando uma partilha de um recluso que lhe assegurou que “foi a melhor coisa” que aconteceu na sua vida. “Ninguém fez nada. Ele teve um encontro real com Jesus e isso transforma-o”, sublinhou.
Para o futuro, “só Deus sabe”. E, apesar do espaço estar a ficar “limitado”, “há sempre espaço para quem quiser aparecer”.
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