Bispo Diocesano uniu quantos são vítimas e combatem a atual pandemia ao mistério pascal de Cristo

D. Anacleto Oliveira presidiu, na Catedral, às celebrações do Tríduo Pascal. Dadas as circunstâncias atuais, as celebrações decorreram sempre sem a presença física dos fiéis, no cumprimento das indicações da Conferência Episcopal Portuguesa e das diretrizes das autoridades civis e de saúde. Os vários momentos foram, contudo, transmitidos em direto nas páginas de facebook da Diocese e da VianaTV.

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16 Abr. 2020 6 mins
Bispo Diocesano uniu quantos são vítimas e combatem a atual pandemia ao mistério pascal de Cristo

D. Anacleto evocou aqueles que, na atual pandemia, “lavam os pés aos outros”, na Eucaristia de Quinta-Feira Santa

No início da noite de Quinta-Feira Santa, o Bispo Diocesano presidiu à Eucaristia Vespertina da Ceia do Senhor. Na sua homilia, começou por referir: “Pelas razões que todos conhecemos, não iremos, este ano, fazer o rito do lava-pés. Não haverá o rito, mas o verdadeiro lava-pés já aconteceu aqui hoje, quando escutámos o relato de São João. Debrucemo-nos sobre essa cena e coloquemo-nos no lugar do doze que veem, inesperadamente, Jesus levantar-se, tirar as vestes, colocar água numa bacia, baixar-se e lavar-lhes os pés”. E especificou: “A cena era tão chocante, pois aquele era um trabalho próprio dos escravos, que os primeiros discípulos nem abriram a boca. Só Pedro falou para rejeitar o que Jesus estava a fazer porque era indigno do Mestre. Mas, depois, sabendo o significado do gesto e vendo-o como antecipação da entrega na Cruz, aceitou-o de boa vontade”.

Ao lavar os pés, explicou o Bispo, Jesus fez-Se escravo, sendo que, então, aquilo que caracterizava o escravo “não era tanto a falta de liberdade, mas o entregar-se totalmente a outrem”.

D. Anacleto disse, de seguida, que “o lava-pés se realiza sacramentalmente no Altar, quando Jesus dá o Seu Corpo e Se torna nossa propriedade para nos tornarmos propriedade Dele”. E, tendo presente a atual pandemia, acrescentou: “É esta comunhão que permite outros lava-pés que se estão a realizar neste momento e que são levados a cabo pelos profissionais de saúde, por aqueles que trabalham nos lares de idosos, pelas forças de segurança, pelos trabalhadores que permitem que continuemos a viver com o conforto mínimo. Todas estas pessoas estão a lavar os pés aos outros, a dar a vida por aqueles a quem se dedicam”. E concluiu: “Estes e muitos outros que aqui não referi merecem a nossa gratidão e desafiam-nos a repetir o mesmo gesto, na fidelidade às palavras de Jesus: «Dei-vos o exemplo para que assim como Eu fiz, vós façais também»”.

Bispo convidou a colocar na cruz de Cristo “quantos estão infetados ou sofrem por causa do vírus”, na Celebração da Paixão do Senhor

Na tarde de Sexta-Feira Santa, D. Anacleto Oliveira presidiu à Celebração da Paixão do Senhor.

Na sua homilia, começou por observar: “Uma das iniciativas mais interessantes desta Semana Santa é a colocação de cruzes, por parte dos cristãos, nas portas ou nas varandas das suas casas. Não sei se alguém que me esteja a escutar nesta hora tem à sua frente alguma cruz. Se não tem, sugiro que coloque um crucifixo diante de si”.

Recordando que a cruz é usada desde há muitos séculos para diversos fins com diferentes dimensões simbólicas, explicou que, no século III a. C., esse objeto passou a ser usado “como o flagelo mais terrível para matar as pessoas: fisicamente insuportável, moralmente e socialmente degradante”.

Depois, o Bispo acrescentou: “É numa cruz dessas que Jesus é lentamente crucificado e passa o momento mais decisivo da sua vida, dando um sentido novo à cruz. Aí, Jesus faz da cruz, não objeto ignominioso, mas fonte de vida para toda a humanidade, como ouvimos no Evangelho. Na cruz, Jesus consuma a oferta permanente de vida que sempre fez”.

Tendo presente a situação atual, D. Anacleto questionou: “Quem são aqueles que podemos, hoje, colocar nessa cruz?”. E apontou a resposta: “Não tenho dúvidas. Hoje, as pessoas que aí colocamos são, em primeiro lugar, as que são infetadas pelo vírus, algumas das quais entregaram já o seu espírito a Deus. Além dessas pessoas, vemos milhões que sofrem física ou psiquicamente por causa do vírus, sentindo o lado negativo da vida, e que também têm lugar nessa cruz”.

A todos convidou a descobrir que “o segredo da vida é usá-la para dar vida aos outros”. E assegurou: “Quando a vivemos assim, a morte não é o fim. Quanto mais intensamente vivermos para os outros, maior será a recompensa que teremos na hora da morte. Coloquemos, então, quantos sofrem na cruz e, com todos esses, aprendamos a viver a nossa vida, fazendo da cruz, não momento de revolta, mas ocasião para nos doarmos mais intensamente”.

“É pecado sairmos de casa sem motivo”, disse o Bispo Diocesano na Vigília Pascal

Ao início da noite de Sábado Santo, D. Anacleto presidiu à Vigília Pascal, ponto culminante de todo o Ano Litúrgico. Na homilia, começou por recordar que dois dos meios mais recomendados para evitar o contágio com o novo coronavírus são a água e o calor: “Tantas vezes nos tem sido dito, nos últimos dias, que precisamos de lavar frequentemente as mãos e que devemos lavar a roupa a altas temperaturas”.

“A água e o calor são, de facto, fundamentais para a vida humana e, nestes últimos tempos, temos percebido isso de modo particularmente claro”, acrescentou D. Anacleto, explicando que “esta noite é, por isso, das mais eficazes para o combate deste vírus, porque, no centro da celebração, estão esses dois elementos: foi com o fogo que iniciámos esta Vigília em redor do círio pascal; foi de água que ouvimos falar praticamente em todas as leituras e só não seremos com ela aspergidos por causa das razões sanitárias conhecidas”. E explicitou: “Seremos, nesta celebração, purificados pela água e pelo fogo que nos limpam das impurezas, não apenas numa perspetiva material, mas também numa perspetiva espiritual, pois estes elementos destroem o vírus do pecado”.

Concretizando, alertou para alguns pecados que devemos evitar nesta hora, dizendo: “É pecado sairmos de casa sem motivo e encontrarmo-nos com outros. Neste tempo, somos obrigados a renunciar a muitas coisas que gostaríamos, nomeadamente a Visita Pascal. Ninguém vai sair nos próximos dias com o compasso pascal porque se o fizer contribui ainda que, indiretamente e involuntariamente, para que outros se possam contagiar”.

D. Anacleto felicitou ainda tantos cristãos que têm tido um comportamento exemplar e exortou: “Cantemos o Aleluia que nos dá esperança. Façamolo, juntando à água e ao fogo, o Pão da Eucaristia e teremos força para lutar pela vida”.

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