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Alto Minho com um carro e dois polícias para cobrir a noite. Portugal enfrenta desgaste crescente nas forças de segurança

Durante a noite, há apenas um carro-patrulha por Comando e dois agentes, para cobrir vastas áreas. Em cidades como Viana do Castelo, o cenário é este e está longe de ser exceção. O Notícias de Viana teve conhecimento de situações de sobrecarga de trabalho e dificuldade em garantir o patrulhamento em tempo útil, tendo contactado a Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP) e a Associação dos Profissionais da Guarda (APG/GNR) para perceber a realidade.

Micaela Barbosa
11 Set. 2025 6 mins

Com 47 anos e décadas de serviço, Paulo Santos, presidente da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia e agente principal no Comando da Polícia de Segurança Pública (PSP) do Porto, não hesita em reconhecer que “a PSP atravessa enormes dificuldades face à escassez de efetivo”. Uma realidade “transversal a todo o país”.

Os números confirmam isso mesmo. Segundo dados oficiais divulgados pela Direção Nacional, em 2024 saíram da PSP 830 profissionais, mas apenas 704 entraram, uma diferença de 126 polícias a menos em apenas um ano. E cerca de metade dos efetivos tem mais de 40 anos, sendo que um terço está já entre os 50 e os 59 anos, e 18,9% (mais de 4 mil polícias) se situam na faixa dos 55 aos 59 anos.

Baltazar Correia, coordenador da região norte da APG/GNR, embora confirme que a escassez na Guarda Nacional Republicana (GNR) também é “grande”, considera ser um “exagero” dizer que “existe uma viatura por cada Comando durante a noite”, justificando que a questão se agrava “no período estival, também devido à variação sazonal das equipas ciclo e de patrulhas conjuntas com a Guardia Civil, de Espanha”.

No destacamento de Viana do Castelo, que engloba cinco postos territoriais (Viana do Castelo, Vila Praia de Âncora, Caminha, Barroselas e Lanheses), a solução tem sido o agrupamento de postos, com um profissional a servir vários locais numa mesma viatura, face à escassez de efetivo.

O problema não é novo, mas tem-se agravado. Em janeiro, o jornal Público divulgou números que indicavam que “há cada vez menos candidatos aos cursos de formação para agentes da PSP e guardas da GNR”. “Em 13 anos, o número de interessados em ingressar nas duas forças de segurança baixou mais de 70%: em 2012, no conjunto das duas forças, houve 21.473 candidatos, número que baixou para 6.036 em 2024, uma redução de 72%”, lê-se na notícia.

Para Paulo Santos, “a falta de efetivos compromete a eficácia da resposta”, sobretudo em zonas com maior dispersão territorial. “O patrulhamento deveria ser mais capaz, mas a escassez de polícias leva a que o serviço seja mais reativo e menos preventivo”, considera, sublinhando que “a situação ainda não está pior porque os polícias são profissionais de excelência e tudo fazem para não comprometer as necessidades das populações”.

Baltazar Correia acrescenta que a baixa atratividade da carreira é um fator chave. “Hoje concorrem mais candidatos a reality shows do que à GNR. A fraca atratividade financeira, os riscos crescentes, a distância da área de residência e a progressão lenta tornam difícil manter os profissionais”, considera, alertando: “Muitos militares experientes não conseguem progredir, e ficam com remunerações semelhantes às dos recém-ingressados, o que desmotiva e prejudica a força.”

A PSP, refere ainda Paulo Santos, tem tido “muita dificuldade em ser atrativa”, e os concursos “ficam sistematicamente abaixo do número de vagas disponíveis”. “Isso não só compromete a operacionalidade, como se traduz em corte de folgas, exaustão nos profissionais e incumprimento da pré-aposentação”, alerta.

No que toca aos meios materiais, Baltazar Correia revela que “o parque automóvel da

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