Vivemos numa era em que o acesso à informação é imediato, global e abundante. No entanto, a sua credibilidade e qualidade enfrentam um sério desafio em Portugal: a desinformação digital.
Segundo o relatório Digital News Report Portugal 2025, 71 % dos portugueses manifestam preocupação com o fenómeno da desinformação online — um valor bem superior à média global.
Este dado não é apenas alarmante: é um sinal de que algo está a falhar no tecido da nossa sociedade da informação. Se as pessoas passam cada vez mais tempo em redes sociais, grupos privados e plataformas de partilha rápida, o critério de verificação — que antes era apanágio do jornalismo profissional — está a perder terreno. Apesar de Portugal manter uma confiança relativamente elevada nas notícias (54 %), este índice caiu dez pontos em dez anos.
O problema vai além do “fake news” de ocasião. A desinformação mina a cidadania digital, fragiliza o debate público, desvia atenções dos problemas reais e reduz a capacidade crítica individual. Quando uma grande parte da população duvida do que lê ou vê, ou ainda pior — confia automaticamente sem questionar — o risco é que a opinião pública se torne mais vulnerável à manipulação, ao populismo e ao sensacionalismo.
Em Portugal, este desafio torna-se ainda mais urgente num contexto de eleições, crise económica, mobilidade internacional e transformação digital. A fragilidade da confiança nas notícias revela que os canais tradicionais não estão a conseguir acompanhar o ritmo de mudança dos hábitos de consumo, nem a dar resposta adequada ao novo público, mais disperso e mais influenciado por algoritmos.
Mas há razões para alguma esperança. Identificar uma preocupação real é já meio caminho andado. Há oportunidades para reforçar a literacia mediática desde o ensino básico, para promover a importância da verificação e para criar ecossistemas digitais mais transparentes. Os órgãos de comunicação social, as redes sociais e os utilizadores individuais têm todos um papel a desempenhar.
Se cada um de nós assumir pequena responsabilidade — questionar fontes, verificar antes de partilhar, privilegiar conteúdos credíveis — então poderemos transformar esta preocupação generalizada em ação concreta. E não se trata apenas de “melhor jornalismo”, mas de “melhor cidadania”.
Porque no fim, a qualidade da nossa informação é a qualidade da nossa democracia.
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