Com mais de metade do corpo docente português a ultrapassar os 50 anos, a escassez de professores agrava-se e as condições da carreira continuam a afastar os mais jovens. Em entrevista ao Notícias de Viana, Júlia Azevedo, presidente do Sindicato Independente de Professores e Educadores (SIPE), defende a valorização social e salarial da profissão, e alerta para que “o ensino não é estático, mas que o sistema continua a tratá-lo como se fosse”.
(NdV): A profissão docente enfrenta, atualmente, uma grande escassez de professores. Na perspetiva do SIPE, que medidas devem ser tomadas, com urgência, para tornar a carreira mais atrativa para os jovens?
(JA): A questão salarial é fundamental. Os professores iniciam a sua carreira no primeiro escalão e o vencimento é muito pequeno, principalmente porque nunca sabem onde vão ficar colocados, a que distância vão ficar, e porque não têm as respetivas ajudas. Ou seja: a um professor, por exemplo, do Norte, que seja colocado no Algarve, o vencimento não vai dar para pagar a renda de casa. Portanto, essa é uma das grandes dificuldades.
O salário tem de ser melhorado, tem de haver as condições, as ajudas de deslocação e o apoio à renda para os professores que estão deslocados e, depois, tem de haver, também, uma valorização social, um reconhecimento da profissão professor, porque, como disse, é a profissão que forma todas as profissões, e a sociedade tem de a reconhecer como uma profissão digna e de destaque.
(NdV): Como avalia a qualidade e a adequação da formação inicial dos professores face às exigências atuais das salas de aula, cada vez mais diversas e tecnologicamente exigentes?
(JA): A formação inicial de professores é fundamental e tem de ser centrada em duas vertentes que têm de estar interligadas: a prática e a teoria.
Os futuros docentes, que estão na formação inicial de professores, têm de ter contacto com a realidade o mais cedo possível, com as escolas, os projetos educativos e as metodologias, para poderem perceber, já no terreno, como atuar; e, depois, ter uma componente científica forte, nomeadamente no âmbito das novas tecnologias, claro, que lhes permita ter uma base sólida para poderem sempre progredir e aprender ao longo da sua carreira, porque o ensino não é estático, está sempre em evolução.
As práticas estão a evoluir, as metodologias estão a evoluir, a tecnologia está a evoluir, e não se aprende tudo na formação inicial de professores. Portanto, tem de haver essa base sólida e essa consciência de que é, apenas, uma primeira etapa em que a prática e a teoria têm de ser sólidas e unidas, para, depois, terem as bases necessárias para uma aprendizagem ao longo da vida.
(NdV): E que importância atribui à formação contínua ao longo da carreira? A atual oferta formativa responde às necessidades reais dos professores no terreno?
(JA): A maior parte dos professores são de bastante idade. Têm 50 ou mais anos. No tempo deles não existiam computadores. No entanto, tiveram agora uma pandemia e todos eles, ou a sua grande e esmagadora maioria, conseguiram transformar o seu ensino, o ensino tradicional, num ensino à distância, através das plataformas digitais e dos computadores. Esses professores, ao longo da sua vida, fizeram formação contínua no ensino das novas tecnologias e, os que não estavam, imediatamente fizeram ações para poderem estar na vanguarda. E a verdade é que passámos de um sítio em que estávamos, um ensino tradicional, com o quadro na sala de aula, para o professor entrar dentro de casa de todos os seus alunos. Isto é um exemplo da necessidade de formação contínua. É urgente e necessária.
A formação contínua exige sempre duas coisas: uma, é a troca de experiências, porque estou a trocar experiências com os meus colegas, que são ricos, todos profissionalizados, ricos em conhecimento. E, ao mesmo tempo, tem de haver uma alteração da minha prática pedagógica. Tenho de aprender alguma coisa, ou troquei alguma experiência, que vão fazer com que a minha prática pedagógica fique mais rica. E isto ao longo de
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