Viana do Castelo: PS fala em estabilidade, Chega denuncia “compadrio” e CDU celebra vitória simbólica

A noite eleitoral em Viana do Castelo foi marcada por um crescendo de entusiasmo, ansiedade e também por uma perceção clara de que, apesar da vitória do Partido Socialista (PS), os desafios para os próximos quatro anos são muitos.

Micaela Barbosa
13 Out. 2025 8 mins

A Avenida dos Combatentes não tinha qualquer movimento, ao contrário da Rua Manuel Espregueira, mais especificamente na sede do PS. O número de apoiantes, com bandeiras na mão, ia crescendo enquanto ainda se aguardavam os resultados oficiais.

O candidato à Câmara Municipal, Luís Nobre, preferiu acompanhar a apuração desde outro local. Quando chegou, já com a certeza da vitória e da maioria absoluta, foi recebido entre aplausos e cumprimentos calorosos. “Até os comemos”, ouviu-se entre os apoiantes.

Na sua primeira declaração a caminho da sede, Luís Nobre mostrou-se sereno, mas confiante. “Preferi aguardar pelos dados oficiais para poder falar com a clareza e a segurança que esta vitória merece. Agora, só me resta agradecer a todos os vienenses que confiaram no projeto que apresentamos. Vamos continuar a trabalhar para garantir a estabilidade e a continuidade dos investimentos que têm vindo a melhorar a nossa cidade”, afirmou.

Mais tarde, em declarações aos jornalistas, o tom mudou. Já longe da euforia da chegada, o presidente reeleito fez questão de abordar o ambiente vivido durante a campanha, que classificou como “particularmente duro”. “Na maioria, os vienenses são pessoas de bem, mas quem esteve atento às últimas semanas de pré-campanha percebeu que houve candidaturas que não se preocuparam em apresentar propostas alternativas”, criticou, acusando algumas forças políticas de terem “acertado o debate na projeção de inverdades”, com ataques direcionados ao seu caráter e à sua vida pessoal. “Foram arrastadas situações que envolviam a minha família (o meu pai, a minha irmã, o meu sobrinho) que nada tinham a ver com o debate político e que foram instrumentalizadas para me atingir”, denunciou.

Sem nunca nomear diretamente os adversários, o autarca falou de uma tentativa de descredibilização pessoal. “Projetaram desinformação. Tentaram criar desordem social para distrair daquilo que foi o nosso trabalho ao longo do mandato. Isso não é política. Isso é fugir ao confronto de ideias”, atirou, garantindo que o mandato que agora se inicia será “assente no humanismo, na simplicidade, na proximidade e na concretização”. “O povo diz, e com razão, que só não sente quem não é filho de boa gente. Eu senti. Foi um processo duro, fui arrastado para um ambiente que não é o meu. Mas mesmo assim, mantive sempre uma atitude de respeito”, confidenciou.

Sobre as críticas que apontavam falta de transparência ou gestão pouco rigorosa, Luís Nobre lembrou os 20 anos de vida pública. “Nunca fui acusado de qualquer ilegalidade. Nunca persegui ninguém. Trabalhámos com base na legalidade e nos processos normativos. Quem diz o contrário, ou esteve distraído, ou tem más intenções”, referiu, recordando ainda alguns dos projetos mais simbólicos do último mandato, como o novo mercado municipal, a descarbonização da frota dos transportes urbanos, a valorização do centro histórico ou os grandes eventos nacionais com impacto em Viana. “A cidade tem vindo a afirmar-se nacional e internacionalmente. Não foi por acaso. Foi fruto de trabalho, de estratégia, de compromisso com os vienenses”, frisou, garantindo: “Serei ainda mais atento. Mais exigente comigo próprio. Continuarei a servir com a mesma humildade e dedicação. E, acima de tudo, estarei disponível para escutar, corrigir e melhorar. Porque é isso que os vienenses esperam de mim e eu não os vou desiludir”.

A alguns metros, na sede da CDU, o ambiente era mais contido, mas ainda assim determinado. Um grupo considerável de apoiantes acompanhava com atenção o evoluir da contagem e, a meio da noite, começaram a chegar mais militantes para parabenizar Cláudia Marinho, ex-vereadora, pela vitória conquistada na União das Freguesias de Viana do Castelo (Santa Maria Maior e Monserrate) e Meadela. Ouviram-se gritos e festejos. “Foi efetivamente uma vitória para nós, com um sabor importante”, afirmou, defendendo o caráter coletivo do projeto. “Movemo-nos por este coletivo e defendemos sempre o nosso lema: trabalho, honestidade e competência. Não é a figura da pessoa, mas o trabalho que é feito por uma equipa”, salientou.

Questionada sobre os planos para o novo mandato na União de Freguesias, Cláudia Marinho apontou a proximidade à população como a principal prioridade. “Queremos manter essa ligação direta, esse compromisso. E com uma equipa renovada, com diferentes experiências e idades, vamos dar uma nova roupagem à freguesia”, afirmou.

Já sobre a maioria absoluta conquistada pelo PS, admitiu surpresa. “Na minha opinião, não era expectável. As pessoas pareciam descontentes. Este cenário é, de certa forma, surpreendente. Mas temos de respeitar. E, mesmo quando perdemos, continuamos a lutar”, disse.

A sede do Chega esteve longe da euforia de outras forças políticas. Apesar de não ter alcançado os dois vereadores que esperava, o partido conseguiu eleger um representante para o executivo: o próprio Eduardo Teixeira, que não escondeu a satisfação com o crescimento da estrutura a nível local. “Não elegemos só um vereador, quase que elegemos dois. É bom que se tenha a noção de que ficámos muito perto de outro resultado. Mas é evidente que o compadrio instalado na Câmara Municipal condicionou a liberdade do voto. Foi uma vitória à justa para o PS, e é uma vitória que, no fundo, esconde uma perda clara de representatividade”, considerou, insistindo na tese de que “muitos vienenses queriam mudança, mas sentiram-se pressionados”. “A Câmara tem quase dois mil funcionários, há famílias que dependem do município e houve condicionamento. O voto é secreto, sim, mas o medo não é invisível. A democracia não se pode fazer assim”, argumentou.

Apesar das críticas, o candidato afirmou ter já tentado felicitar Luís Nobre, deixando, contudo, um recado de que “esta maioria não deve ser lida como carta branca”. “Há políticas que têm de ser corrigidas, desde a habitação até à carga fiscal, da gestão autárquica ao respeito por todos os munícipes”, apontou.

Eduardo Teixeira destacou ainda a nova presença do Chega em 12 assembleias de freguesia e na Assembleia Municipal, onde conquistou cinco eleitos. “Somos hoje 18 autarcas no concelho de Viana do Castelo. Isso é inédito. A esquerda perdeu peso, a extrema-esquerda desapareceu, e nós viemos para ficar. Teremos um papel interventivo, atento e sem medo de denunciar o que tiver de ser denunciado. Viana merece mais e melhor”, sublinhou, comprometendo-se com uma oposição “proativa, competente e fiscalizadora”. “O Chega vai fazer oposição séria, mas firme. Vamos lutar por mais poder de compra, por menos impostos e por uma cidade onde todos se sintam tratados de forma igual. Sem favores, sem pressões, sem medo”, concluiu.

Mais ao final da noite, o Notícias de Viana passou pela sede da Aliança Democrática (coligação PSD/CDS), mas já não se encontrava ninguém no local. Ainda assim, o candidato Paulo Morais assumiu a derrota e saudou o presidente reeleito Luís Nobre, afirmando que “os vianenses votaram bem”. “Em democracia, o povo vota sempre bem e respeitamos os resultados”, referiu.

O candidato destacou que, apesar de não ter alcançado a presidência da Câmara, a coligação registou um “forte reforço, elegendo novas Juntas de Freguesia que não estavam na esfera da AD”. 

Questionado sobre eventuais falhas na campanha, Paulo Morais assegura que não falharam “nada”. “É democracia. Apresentámos o nosso programa, a nossa equipa e transmitimos a nossa mensagem da forma que entendemos mais adequada”, justificou, garantindo que irá cumprir o mandato com responsabilidade. “Estarei nas reuniões de Câmara, nas sessões que entender úteis, no diálogo permanente com os vianenses, defendendo o que preconizo como melhor para o concelho, respeitando a vontade da maioria expressa nas urnas”, reforçou.

Paulo Morais destacou ainda o crescimento da coligação em termos de votos e reafirmou o compromisso de uma oposição “construtiva”, sem deixar de “respeitar as escolhas dos vianenses”.

Enquanto uns celebravam e outros digeriam os resultados, a nova configuração do executivo municipal ficou definida: maioria absoluta para o PS, reforço da AD, entrada do Chega e ausência da CDU. Agora, fica a expectativa de um novo ciclo político, repleto de desafios e oportunidades.

Tags Política

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