As eleições autárquicas de 2025 no Alto Minho confirmaram a tendência nacional de consolidação de maiorias locais e estabilidade política, mas com mudanças relevantes no xadrez regional. Depois de uma campanha marcada por rumores de incerteza e margens apertadas, o eleitorado minhoto respondeu com um recado inequívoco: todas as câmaras municipais foram conquistadas com maiorias absolutas. Ainda assim, os resultados redesenham o equilíbrio de forças — e mudam o rosto da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho, que passou do domínio socialista para a liderança social-democrata.
O Partido Social Democrata foi o grande vencedor da noite eleitoral. Conseguiu conquistar duas autarquias até então socialistas — Caminha e Melgaço —, assegurando a maioria de câmaras e, consequentemente, o controlo político da CIM Alto Minho.
Esta vitória tem também um nome: Olegário Gonçalves, líder distrital do PSD e candidato à presidência da Câmara de Arcos de Valdevez, onde não só manteve uma confortável maioria como reforçou a votação.
Sob a sua coordenação, o PSD consolidou posições e recuperou terreno em várias frentes.
A ironia política é inevitável: a CIM passa de Manuel Batista, antigo padre e histórico presidente socialista de Melgaço, para Olegário Gonçalves, um ex-empresário do ramo funerário. Uma transição literal — de um ex-padre para um ex-cangalheiro — que, no seu simbolismo, resume a metamorfose política da região.
Entre as vitórias discretas, mas politicamente relevantes, está a de Cláudia Marinho, candidata da CDU à União de Freguesias da cidade de Viana do Castelo.
Num distrito quase inteiramente dominado por socialistas e sociais-democratas, a coligação comunista-ecologista manteve aquela que é a única junta de freguesia comunista do Alto Minho — uma verdadeira “aldeia gaulesa” no mapa político do Norte.
A vitória ganha especial relevo porque o adversário era Rui Sousa, ex-ciclista profissional, figura popular no concelho e aposta pessoal de Luís Nobre, atual presidente da Câmara de Viana do Castelo.
A candidatura de Rui Sousa foi, de resto, contrária à sensibilidade de parte da estrutura socialista local, que preferia um perfil mais tradicional e enraizado na cidade.
O desfecho reforçou o estatuto de Cláudia Marinho como nova figura em ascensão na esquerda local.
Durante anos, a resistência comunista em Viana foi associada a autarcas veteranos — os chamados “dinossauros autárquicos”. Cláudia Marinho, jovem e politicamente determinada, que optou por não se recandidatar à vereação para assegurar a junta, veio desmentir essa ideia: o poder local da CDU em Viana é, afinal, também geracional.
Em Viana do Castelo, Luís Nobre surge como um dos vencedores da noite, ainda que num registo de sobriedade.
Várias vezes acusado de falta de carisma face aos seus antecessores, viu reforçada a confiança dos vianenses no PS, mantendo a maioria absoluta e contrariando os rumores de que um empate técnico poderia ditar a perda da autarquia.
O resultado é também fruto de voto útil à esquerda, em parte motivado pelo enfraquecimento da CDU e do Bloco de Esquerda, e pela perceção de que o PS representava a opção de estabilidade. A participação eleitoral mais alta ajudou o partido, e a personalidade dos adversários — com perfis que dividiram o eleitorado mais conservador — acabou por consolidar a base socialista.
Luís Nobre sai destas eleições politicamente reforçado, demonstrando que o PS pode continuar a governar com maioria mesmo num contexto de maior competição e pluralidade.
Apesar da retórica e da expectativa de crescimento, o Chega foi um dos grandes derrotados da noite minhota.
O partido subiu em votos em quase todos os concelhos, mas não conseguiu traduzir esse aumento em poder executivo.
O contraste entre ambição e resultado é flagrante:
Em Viana do Castelo, onde André Ventura encerrou a campanha nacional, o partido ficou longe de qualquer hipótese de vitória, elegendo apenas um vereador sem influência executiva;
Em Melgaço, onde concorria Diogo Pacheco de Amorim, um dos ideólogos do partido, o resultado não chegou sequer a 2%;
E em concelhos onde o Chega teve votações expressivas nas legislativas, essas percentagens não se converteram em mandatos locais.
O Chega ganhou espaço no debate, mas não ganhou território político. O seu crescimento parece mais um voto de protesto do que de implantação autárquica.
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