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Autárquicas no Alto Minho: quatro campeonatos num só distrito

As eleições autárquicas de 2025 no Alto Minho não são um único jogo: são quatro campeonatos distintos, cada um com dinâmicas próprias, que ajudam a explicar tanto a persistência de certos poderes locais, como a volatilidade crescente da política portuguesa em tempo de fragmentação partidária.

João Basto
2 Out. 2025 5 mins

O chamado “Campeonato Alemão” joga-se em Paredes de Coura, Ponte de Lima, Monção e Arcos de Valdevez. Aqui, vale o ditado do futebol: “são 11 contra 11 e, no fim, ganha a Alemanha”. A previsibilidade é a regra. A tradição partidária e a solidez das lideranças locais funcionam como muralhas quase intransponíveis, tornando improvável qualquer surpresa. Se algum terramoto acontecer, será sociológico, não apenas político.

Já o “Campeonato dos Politólogos” concentra atenções em Melgaço, Valença e Vila Nova de Cerveira. São os terrenos favoritos dos “nerds” da política, porque o que está em causa é a tradução de votos parlamentares em mandatos locais. A palavra-chave é Chega: o partido obteve votações expressivas em Valença e Cerveira nas últimas legislativas, e agora testa a sua força no terreno municipal. Todos estes concelhos têm Executivos socialistas, o que transforma o resultado num barómetro da resistência do PS em zonas de fronteira. Melgaço, por sua vez, traz, ainda, uma particularidade: é o único concelho afetado pela limitação de mandatos, e vê surgir, como candidato do Chega, um dos ideólogos mais conhecidos do partido: Diogo Pacheco de Amorim.

No “Campeonato João Pinto”, a lógica é outra: “prognósticos só no fim do jogo”. Caminha e Ponte da Barca são os terrenos mais férteis para surpresas. Em Caminha, será a primeira eleição depois da saída atribulada de Miguel Alves, e a incógnita é saber se Rui Lage será lido como “o miúdo que segurou o barco”, ou como o “delfim que carrega o peso do passado”. Já em Ponte da Barca, o jogo faz-se num duelo quase pessoal: o atual presidente enfrenta o seu antecessor, num ajuste de contas político alimentado pelas notícias de investigações judiciais recentes à autarquia.

Mas a verdadeira “final distrital” joga-se em Viana do Castelo, a capital. É aqui que os dilemas estruturais ganham escala e onde o tabuleiro político está mais aberto. Partidos ainda minoritários, como o PCP/CDU ou o Chega, podem ter um papel decisivo na definição do vencedor e, sobretudo, na governabilidade. Depois de três décadas de domínio socialista, o palco está montado para um desfecho que tanto pode repetir a história, como escrever um capítulo inesperado.

Identidade e cultura política

No Minho, a política é também um prolongamento da vida comunitária. Em concelhos pequenos, “toda a gente se conhece” e a autarquia funciona, muitas vezes, como espaço de proximidade, de resolução de problemas e, também, de rede de influência. A cultura minhota, marcada pela forç

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