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Habitação precária em Portugal: quando o século XXI ainda deixa entrar chuva pelo telhado

Em Viana do Castelo, a associação Just a Change mobilizou 22 voluntários para reabilitar casas sem água canalizada ou com telhados a ruir. O caso expõe as falhas estruturais da habitação no país — da ausência de saneamento rural às rendas baixas que impedem senhorios de garantir condições mínimas.

Micaela Barbosa
3 Out. 2025 4 mins

Em Santa Marta de Portuzelo, Viana do Castelo, uma das beneficiárias, de 58 anos, fala com emoção, enquanto observa jovens a reconstruir o chão e as paredes da casa onde nasceu. “Fiquei toda feliz quando soube que vinham. Adoro esta equipa; são um amor”, diz, lembrando como a cozinha ficava inundada cada vez que chovia.

O projeto é da associação Just a Change, uma IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social) criada para combater a pobreza habitacional em Portugal. Catarina Peixoto, gestora da iniciativa, define-a sem rodeios: “É viver sem dignidade numa casa que não sela. Muitas vezes sem água canalizada, sem eletricidade, sem conforto ou eficiência energética”.

Um retrato desconfortável

Em agosto e setembro, a Just a Change voltou a Viana do Castelo, onde já atua há três anos. Reabilitou três casas em más condições e fez uma intervenção menor numa quarta, em freguesias como Santa Marta de Portuzelo, Perre ou Santa Maria Maior.

Os casos sinalizados chegam através da Câmara Municipal e da assistência social. As prioridades são claras: telhados que deixam passar água, pavimentos em risco de colapso, ou casas sem ligação interior à rede de água. Todas as habitações intervencionadas tinham certificado energético na classe F.

O contraste é evidente. “Na nossa casa temos tudo, e o vizinho ao lado não tem nada. Muitas vezes passamos por casas bonitas por fora, mas por dentro não estão. Há muitas casas em Portugal sem água, sem eletricidade, onde chove dentro”, alerta Catarina.

O peso das rendas baixas

A realidade não se limita ao interior. “Encontrámos uma habitação social no centro do Porto, sem água canalizada. Em pleno século XXI”, acrescenta a gestora.

O problema estrutural agrava-se com rendas irrisórias. Muitos inquilinos pagam 10 euros mensais — 120 euros por ano. “Como é que um senhorio consegue fazer manutenção com isso? Um balde de tinta já custa 100 euros”, nota.

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