Tratar um enfarte, em Portugal, pode custar até 18 mil euros. Neste valor, estão incluídos não só os procedimentos médicos mais complexos, como a angioplastia ou a cirurgia cardíaca, mas também os custos do internamento, dos medicamentos e das complicações que, muitas vezes, se seguem. Os dados, revelados recentemente pelo Jornal Observador, mostram, ainda, que as pessoas com diabetes, com história de enfartes anteriores ou fumadoras tendem a ter mais complicações e a necessitar de internamentos mais prolongados.
Um enfarte — nome comummente usado para designar o enfarte agudo do miocárdio — corresponde à lesão de células do músculo do coração, resultante de uma interrupção súbita do fluxo sanguíneo. Este músculo, responsável por bombear o sangue para todo o corpo, deixa de receber oxigénio suficiente, e as suas células começam a morrer. Estima-se que, todos os anos, ocorram mais de dez mil enfartes em Portugal. É uma das principais causas de morte no país — e também na Europa —, e, infelizmente, continua a atingir muitas pessoas em plena idade ativa.
Mas será que há algo que possamos fazer para evitar entrar nestas estatísticas? A resposta é sim. Apesar de alguns fatores de risco não serem modificáveis — como a idade ou a genética —, muitos outros estão diretamente ligados ao nosso estilo de vida e podem ser controlados. Este mês, é Chamado ao Consultório para reconhecer esses fatores e aprender a promover escolhas que protejam a sua saúde.
Entre os principais fatores de risco para as doenças cardiovasculares – doenças do coração e dos vasos sanguíneos -, estão a obesidade, a inatividade física, o tabagismo, a hipertensão arterial, a dislipidemia (ou colesterol elevado) e a diabetes. Quando há excesso de colesterol LDL — o chamado “mau” colesterol —, este começa a depositar-se nas paredes das artérias, formando placas de aterosclerose que estreitam ou bloqueiam o seu interior. Por outro lado, o tabaco danifica o revestimento das artérias e favorece a formação dessas mesmas placas, além de provocar espasmos nos vasos, dificultando ainda mais a circulação. A tensão arterial elevada, ou hipertensão, obriga o coração a um esforço acrescido, já que as artérias se tornam mais rígidas e perdem elasticidade. No caso da diabetes, o excesso de açúcar no sangue acelera o envelhecimento dos vasos, contribuindo, também, para o desenvolvimento de aterosclerose. Quando estes fatores se acumulam — o que é comum —, o risco dispara.
A boa notícia é que há muito que podemos fazer para prevenir. A adoção de uma alimentação equilibrada, com menos sal, gorduras saturadas e açúcares, associada à prática regular de atividade física — idealmente, pelo menos, 150 minutos por semana de atividade moderada —, ao abandono do tabaco e ao controlo do peso, da pressão arterial, do colesterol e da glicemia, são passos simples, mas fundamentais, para reduzir o risco de desenvolver doenças cardiovasculares. Mais do que mudar tudo de uma vez, trata-se de ir fazendo pequenas escolhas conscientes e sustentadas no tempo e que, somadas, fazem uma enorme diferença.
Tendemos a associar este grupo de doenças à morte — e com razão, já que continuam a ser a principal causa de morte em Portugal —, mas esquecemo-nos de que elas são, também, uma importante causa de incapacidade prolongada, de ausências ao trabalho, de perda de autonomia e de um enorme impacto sobre a vida das famílias. Não se trata apenas de uma questão de saúde individual, mas de um problema com profundas consequências sociais e económicas para o país.
É, por isso, essencial investir em políticas públicas de prevenção, aumentar o conhecimento da população, capacitar as pessoas para que compreendam melhor a sua saúde, as suas doenças e tratamentos, e reforçar os programas de reabilitação, que permitem que, após um evento cardiovascular, as pessoas possam viver mais anos com qualidade de vida. O problema é que estas medidas, por não gerarem resultados imediatos, raramente são uma prioridade política. Falta coragem para implementar estratégias de longo prazo. Enquanto esperamos por essa mudança, o melhor é irmos cuidando de nós.
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