Melgaço e Viana do Castelo são os dois municípios do Alto Minho que querem apostar em projetos de produção de hidrogénio verde. No entanto, um estudo, recentemente, publicado na Nature Energy revela lacunas financeiras e de competitividade que dificultam o avanço dos projetos.
No Município de Melgaço, prevê-se que, este ano, se inicie a produção de hidrogénio a partir de seis hectares de painéis fotovoltaicos, que vão “fornecer energia abaixo do preço de mercado” às duas zonas industriais do concelho.
Em Viana do Castelo, em outubro, aprovou-se a declaração de reconhecimento de interesse municipal de um projeto de produção de hidrogénio verde. Um pedido requerido pelo grupo JAF H2 VERDE, de Guimarães, para a instalação de uma unidade de produção de hidrogénio verde no lugar de Entre-Valos, na União de freguesias de Subportela, Deocriste e Portela Susã, nas proximidades da empresa britânica de produção de papel e embalagens DS Smith.
No final do mês de dezembro do ano passado, o Expresso revelava que, “mesmo com subsídios aprovados, são vários os investimentos em hidrogénio verde que não saem do papel em Portugal. Um mês antes, o mesmo semanário dava conta da insolvência da empresa portuguesa Fusion Fuel, que já tinha garantido subsídios de dezenas de milhões de euros para o negócio do hidrogénio verde. O segundo aviso do Fundo Ambiental (FA) para apoiar projetos de gases renováveis, lançado em 2023, veio distribuir €83 milhões de verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) por um total de 22 iniciativas, mas entre elas já houve cinco desistências e uma anulação. São seis projetos que ficam pelo caminho, apesar de já terem assegurados quase €19 milhões em subsídios do Fundo Ambiental”.
Entre as desistências estão: Regamondego (grupo Rega Energy), Hevo Aveiro (ligada à Fusion Fuel) e Prio Bio. As principais razões apontadas são a “morosidade na obtenção das licenças necessárias” e o “curto” prazo operacional. No entanto, “há também preocupações com a capacidade de financiar os investimentos”. “Apesar de os subsídios do FA cobrirem parte dessa despesa, alguns promotores continuam com dificuldades em obter financiamento bancário”, indica a notícia, alertando ainda para “a viabilidade económica de todos os projetos”.
Já o estudo, que tem por base uma análise de 190 projetos, ao longo de três anos, revela que, em 2023, “apenas 7% da capacidade de hidrogénio verde inicialmente anunciada foi eventualmente concretizada”. “Em segundo lugar, o fosso de ambição para 2030 foi gradualmente reduzido ao longo dos últimos três anos, à medida que a reserva de projetos excede cada vez mais os requisitos em cenários de 1,5 °C. Porém, isto levou a uma grande lacuna de implementação em 2030, uma vez que seriam necessários enormes subsídios para realizar todos os projectos até 2030, e ainda mais para colocar o hidrogénio verde no caminho certo para 1,5 °C a longo prazo”, lê-se nas conclusões, alertando: “As altas taxas de falhas anteriores indicam uma confiabilidade limitada dos anúncios de projetos publicados pela indústria, que pode anunciar projetos de hidrogênio verde por razões estratégicas, como chamar a atenção ou atrair subsídios.”
Ainda assim, o estudo defende que “uma estratégia política abrangente para o hidrogênio verde deve incluir medidas direcionadas do lado da demanda e uma transição gradual de subsídios para mecanismos de mercado”. “No curto prazo, isso reduziria o risco do investimento inicial a custos gerenciáveis, orientando o hidrogénio para seus casos de uso mais valiosos. A longo prazo, isso transferiria riscos de investimento e concorrência entre hidrogénio e outras opções de mitigação para o mercado, estabelecendo assim um compromisso confiável para a mitigação das mudanças climáticas e estimulando o crescimento do hidrogénio verde”, acrescenta.
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