Diante da Palavra
Vinde, Espírito Santo! Vinde e concedei-nos um olhar penetrante, capaz de discernir a realidade que observamos.
Interpelações da Palavra
Acautelai-vos
No nosso avançar para o final do ano litúrgico, o ensinamento de Jesus alcança-nos com esta palavra inicial: cautela. A prudência e o cuidado no nosso caminho de fé serão um estorvo se alimentarem a desconfiança entre nós, mas serão um grande sinal positivo se procederem da nossa confiança depositada em Deus. Jesus pede, precisamente, cautela face a tudo o que está implicado com a idolatria, ou seja, tudo sobre o qual alicerçamos a nossa segurança não sendo o próprio Deus. A centralidade da pessoa, para os cristãos, é inseparável da centralidade e do absoluto de Deus. Quando alguém pensa que a sua dignidade provém da qualidade das roupas que veste, dos cumprimentos que recebe em ambientes públicos, dos lugares que lhe estão reservados, simplesmente, ilude-se. Abre espaço, por consequência, à desilusão, à desconfiança e à revolta. É em Deus, não nas suas criaturas, que cada um de nós encontra a unidade e totalidade.
Jesus sentou-se a observar
No dia de Todos os Santos escutámos Jesus a sentar-se para ensinar as bem-aventuranças aos discípulos que O rodeavam; neste domingo, assistimos a algo semelhante: Jesus senta-se e ensina-nos a observar. As suas palavras esclarecem que Deus não vê como nós. O ser humano olha às aparências, Deus vê o coração (1 Sm 16, 7). Esse olhar divino sobre nós mesmos e quanto nos rodeia só um dia o receberemos plenamente, como dom. Entretanto, a compreensão e o discernimento da realidade necessitam da luz do Evangelho que, dado os seus complementares trechos, nos exige a atenção e o tempo oferecidos a uma pessoa. Na verdade, o ato de observar pode provocar aqueles julgamentos precipitados contra os quais Jesus nos adverte (Lc 6, 37). Julgamentos esses que se evitam exercitando um olhar fraterno, tal qual o do Senhor: um olhar capaz de perdoar e de se implicar na salvação de quem quer que seja.
Na sua pobreza, ofereceu tudo
Jesus detém-se a contemplar a pobreza duma pobre viúva. Sim, não há redundância. Jesus poderia ter visto a riqueza duma pobre viúva como viu a riqueza de muitos que deitavam quantias avultadas. Porém, observou e valorizou a pobreza daquela mulher duplamente depauperada: não lhe bastava ser viúva, que era também pobre. E, no entanto, tinha tudo. A ela se aplica a primeira bem-aventurança: «Bem-aventurados os pobres, porque deles é o reino dos Céus» (Mt 5, 3). Não porque privada de bens, mas porque libertada da avidez das coisas. Esta mulher do Evangelho tinha Deus na vida, porque só quem tem Deus possui a autêntica pobreza, que se chama igualmente desprendimento e liberdade. Só quem tem Deus sabe que é Deus quem nos tem. Só quem tem Deus pode oferecer tudo o que possui para viver. A sua vida não depende já do guarda-roupa, nem das condecorações, nem das saudações públicas, nem dos lugares vistosos. A sua vida é plena, livre, porque totalmente dependente de Deus.
Rezar a Palavra
Senhor Jesus, que vedes o íntimo do nosso ser,
e conheceis por antecipação o nosso agir e falar,
Vinde em auxílio da nossa fé, para que possamos:
Viver em plena comunhão com o Pai,
Ter coragem para a dádiva de nós mesmos,
Abandonar a absolutização do supérfluo,
E receber, com alegria, a cruz de cada dia. Ámen.
Viver a Palavra
Esta semana, nos momentos de oração, agradecerei ao Senhor o dom da sua proximidade que preenche e liberta.