Diante da Palavra
Vinde Espírito Santo! Vinde e projetai-nos para Cristo, que com o Seu toque nos salva.
Interpelações da Palavra
Se quiseres, podes curar-me
Eis o pedido que hoje, sobremaneira, ressoa das nossas casas, dos leitos nos hospitais, das nossas praças e dos nossos templos: «se quiseres, podes curar-me». De uma forma ou de outras, encontramo-nos todos feridos pela doença. Pensávamos que, aqui, algo semelhante à lepra era já uma lenda distante. E, num ápice, multiplicaram-se os contagiados e sobraram os isolados. Confinados pelo alarme da impureza! Uma linguagem distante, desusada, assumiu novos cambiantes. Uma chaga atroz tortura-nos. Porém, como luz e bálsamo, a mesma fé de circunstâncias semelhantes passadas emerge agora. É ela que faz brotar do coração de cada crente esta constatação humilde: «se quiseres, podes curar-me». É um ato de confiança e de liberdade, a única oração adequada nos lábios de quem, apesar de tudo, não esquece que Cristo salva.
Quero: fica limpo
As palavras de Jesus não são a resposta a um pedido, são antes um desejo que precede o advento da doença, o sobrevir da lepra, o nascimento do vírus: o desejo de dar vida plena.
E, tocando-o, restitui-lhe a limpidez. Eis o querer do nosso Deus: que em Cristo readquiramos a semelhança divina. Aquele mesmo estado das origens. Com a cura, Jesus reintroduz o leproso na vida social, na comunhão pública. Já não precisa de morar à parte nem de fugir, simplesmente por ter ouvido o rumor dos passos; já não precisa de se destacar, negativamente, pelo vestuário andrajoso e o corte desalinhado do cabelo; já não precisa de cobrir o rosto nem de recordar, pelo alarme do próprio grito, a sua cruel doença. Pode, como novo, correr pelos caminhos, andar pelas praças, cumprimentar quem passa, entrar nas sinagogas e no templo, abrir as portas da sua casa a tantos. O encontro com Cristo derrubou-lhe os bloqueios sanitários e sociais, por meio de um trabalho vivificante que trespassa toda a história.
Não digas nada a ninguém
O evangelista Marcos surpreende-nos, a cada pouco, com uma advertência de Jesus que impõe silêncio sobre o que aconteceu ou sobre quem o anuncia como Messias. Efetivamente, ainda hoje, Jesus não quer que o conheçamos como um Messias dinástico ou curandeiro. Seria criar preconceitos, que teríamos muita dificuldade em abandonar. Aliás, ainda hoje persiste aquela lepra interior que se contagia com o rotular de pessoas. Trata-se de uma doença, às vezes de tal forma intensa, que nos faz incorrer no risco de deixar de ver rostos, tal o fascínio dos rótulos. Contudo, além do pragmatismo que a advertência de Jesus contém, gosto ainda de entender este «não digas nada a ninguém» como um alerta para a nossa atividade evangelizadora: o encontro com Cristo, mais do que verbalizado, basta ser simplesmente testemunhado. Não há palavras… a linguagem mais adequada é a do testemunho de quem se contorce interiormente no ato de colaborar com a limpidez do Evangelho.
Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor Jesus, se quiseres podes curar-nos,
Podes ungir a nossa carne com o azeite da alegria
E derramar no nosso íntimo o vinho da esperança.
Tu podes inspirar as decisões dos nossos governantes;
Tu podes confortar as nossas famílias e refazer os nossos tecidos sociais;
Tu podes reanimar o esforço dos nossos enfermeiros e médicos;
Tu podes reacender os gestos e as palavras dos voluntários;
Tu podes redimensionar, pela amizade e fraternidade, toda a ação social;
Tu podes, Tu livras-nos do mal.
Viver a Palavra
Ao longo desta semana, vou procurar ter um especial gesto de atenção para com quem se encontra doente.