Ao início da tarde subimos ao monte, de estrada íngreme e curvas complicadas, (…). Já lá estavam dezenas de pessoas devidamente acompanhadas dos seus “meninos” pela trela ou ao colo, alguns bem agasalhados (…).
Santo Antão é o santo protetor dos animais domésticos. Depois de ter lido um bocado sobre ele, verifiquei que a razão para tal começa pela convivência deste eremita com animais e passa pela sua intercessão na questão de doenças contagiosas, o que levou à criação dos hospitais antonianos que tratavam dessas doenças e tiveram de subsistir, a dada altura, através da criação de porcos, o que explica a presença de um destes animais na sua imagética.
A bênção dos animais celebrou-se cumprindo uma tradição já muito antiga nesta ermida. (…), situada longe de tudo, mas cujo espaço envolvente, de vista maravilhosa sobre a foz do Rio Minho, foi suficiente para cerca de 25 cavalos, outros tantos cães, alguns gatos, coelhos, hamsters, galinhas, ovelhas e aves de vários tipos. Várias peculiaridades marcaram a tarde: um menino levou nos braços uma ovelha de peluche quase do seu tamanho para ser benzida “simbolicamente”, aves diversas no interior da capela rivalizaram o tempo todo com o próprio coro ao longo da missa, e o facto de várias pessoas terem optado por levar mais do que um animal (…).
A cerimónia foi muito bela, tendo em destaque dentro da pequena ermida um presépio composto pela Sagrada Família rodeada de animais, claro. Apenas animais a compor aquele maravilhoso arranjo, lembrando a importância destas criaturas na vida humana. Animais para trabalho ou companhia, até para alimentação, são presença constante nas nossas vidas. São, inclusive, a única companhia permanente de alguns num mundo como o de hoje, (…). No final da missa, saiu o Pe. Paulo Emanuel (…) a fim de dar as tradicionais 3 voltas à ermida em contínua oração, seguido dos animais pela mão dos seus donos. Por fim, teve lugar a bênção individual dos animais ali presentes, que, pela forma como se comportavam, pareciam reconhecer a importância do rito, admitindo com mais ou menos “boa disposição” a água benta nos focinhitos.
Assim passámos a tarde de Domingo… no meio dos animais, aquelas criaturas que se dão sem pedir nada em troca, apenas alimentação, abrigo e um afago… que nos dão um amor sem restrições, sem dúvidas. Todo entrega, todo amor.