Como tem vivido este tempo?
Este tem sido um tempo singular, de desafios e aprendizagens. Um tempo de verdadeira transformação das rotinas a todos os níveis: familiares, profissionais, sociais. Por um lado, vemo-nos “obrigados”, de certa forma, a escolher os familiares que podemos/devemos ver e estar. A nível profissional, vemo-nos “obrigados” a trabalhar a partir de casa que, embora fosse um desejo de muitos, pode tornar-se quase incomportável. A nível social, e já dizia um apresentador de televisão conhecido, vivemos um tempo de «luto de afetos». Temos de ter a força e coragem de mostrar o nosso amor e amizade de outras formas, reinventando-os.
Eu acabo por estar a passar-me despercebido “este tempo”. Estou numa fase da minha vida profissional, positiva, onde estou deslocado, longe da minha família durante a semana e acabo por estar a viver tudo isto um pouco mais sozinho; estou a viver na capital, num espaço que não é verdadeiramente “o meu” e, só por aí, os medos são outros mas ao mesmo tempo, vejo nos outros (que muitas vezes pensamos serem mais insensíveis pelas circunstâncias) a telefonarem e a mostrarem-se prontos a ajudar naquilo que precisar. Tenho também aprendido a “relativizar”. Tenho a sorte de poder dizer que nada de grave aconteceu a mim e aos meus. Devemos pensar em todas as pessoas que realmente estão a sofrer física e mentalmente e ajudar naquilo que estiver ao nosso alcance e, na maioria das vezes, ficar em casa é só aquilo que nos pedem.
O que tem sentido ao contactar com as comunidades e grupos eclesiais?
A realidade é que, infelizmente, pouco tenho contactado a nível presencial com grupos e movimentos que, até então, participava.
Para além da Eucaristia, que vou participando muito de quando em vez, vejo-me a colaborar com a equipa da Pastoral Juvenil da nossa diocese que prepara ferverosamente as jornadas mundiais da juventude. Tem sido um enorme desafio ao qual os nossos jovens têm correspondido a pouco-e-pouco, até com algum receio, porque nada disto estava nos planos pois a esperança de estarmos todos juntos, em 2023 em Lisboa, com jovens de todo o Mundo é tão grande que nem as máscaras no rosto nos vão impedir de mostrar o nosso sorriso.
A maioria dos meus amigos pertencem a grupos de jovens espalhados pela nossa diocese e vou vendo-os crescendo na fé.
Este tempo têm-nos mostrado que não precisamos de estar dentro de uma igreja de 4 paredes para «ser igreja» e «estar em igreja». Quem dependia disso, talvez possa estar a duvidar da sua fé. Quem, como o Papa Francisco aconselhava os jovens, se desprendia e saía do sofá, estará seguramente mais certo da sua fé e pronto a ajudar o próximo nesta altura frágil para todo o ser humano.
Como tentou fazer face aos desafios lançados pela pandemia?
Tem sido difícil… o principal desafio tem sido levar “isto” de uma forma séria mas simultaneamente de uma forma descontraída. A palavra “pandemia” é, já por si, muito forte e quando ligamos a televisão (que até agora seria para nos divertirmos e desanuviar a cabeça), vemo-nos ligados à tragédia diária que tem assombrado todo o mundo. Tenho-me tentado desligar do inevitável. Ler apenas o suficiente e indispensável sobre o assunto atual e, tudo o resto, ser apenas lazer. Estar com um grupo muito restrito de familiares e amigos, trabalhar e crescer a nível profissional, aproveitar o “estar em casa”… e viver.