Como tem vivido este tempo?
A partir de março de 2020, utilizei toda a minha disponibilidade em servir os outros. Como? Em primeiro lugar, no trabalho de preparar, reparar e inovar os espaços pertencentes ao Ministério da Saúde, para que pudessem salvar e proteger vidas, quer dos utentes como dos seus profissionais. Por outro lado, como cristão comprometido, procurei aprofundar o conhecimento sobre os fundamentos da fé cristã e da Palavra de Deus. De igual forma, colaborei, como habitualmente, na preparação das Eucaristias que eram celebradas à porta fechada e transmitidas pela rádio local. No entanto, de forma pessoal, este tempo de pandemia foi marcado por dois motivos antagónicos. Foi com muita alegria que, no mês de abril, vi nascer o meu primeiro e único neto; no entanto não foi possível vê-lo, de forma presencial, e nem o tocar durante 30 dias. Por outro lado, a minha família vive um período muito difícil: a minha sogra adoece com neoplasia e morre em novembro; nesse mesmo momento, o meu filho é infetado pela Covid e eu e a minha esposa ficamos 15 dias em confinamento. Por conseguinte, não tivemos a possibilidade de nos despedir convenientemente dela e nem de assistir às cerimónias fúnebres. Perante este momento tão doloroso, foram o apoio espiritual e a fé que nos ajudaram a fazer o luto.
Em suma, viver estes tempos de pandemia só é possível com entrega, fé, amizade e não pensar só em mim, mas mais no outro.
O que tem sentido ao contactar com as comunidades?
Tenho sentido muito receio e incertezas quanto ao futuro. Uns fecham-se em casa por medo do vírus, outros perdem os seus empregos, outros começam a ter grandes dificuldades económicas, outros começam a perder a esperança de melhores dias, e assim por diante. Na vida das nossas Paróquias, o receio está bem presente. As pessoas, sobretudo os mais idosos, têm medo de participar na Eucaristia comunitária, os pais não inscrevem ou não levam os filhos à catequese, pelo risco de contágio. No entanto, penso que há aspetos muito positivos que temos de valorizar, como é a consciência de que cada família é uma Igreja Doméstica, que se une e reúne para rezar e refletir na Palavra de Deus através dos materiais disponíveis a cada Domingo.
Como tentou fazer face aos desafios lançados pela pandemia?
Considero-me um privilegiado. Nunca me senti sozinho no combate aos problemas causados pela pandemia. A família e os amigos foram os grandes suportes. A nível familiar, utilizamos os meios de comunicação digital para falar uns com os outros; os meus filhos, embora cansados e até exaustos no exercício das suas profissões como enfermeiros, estiveram sempre disponíveis para nos ajudar e cuidar de algum problema. Do mesmo modo, senti que os amigos estavam sempre presentes. No fundo, a pandemia obrigou-nos a adaptar a nossa presença com outras formas de comunicação, permitindo suavizar a saudade de um abraço e de um beijo.