Toda a gente sabia que éramos amigos. Mais do que isso, confidentes. Mais do que isso, eu era para ele Padre, e ele era para mim Padre, para as oportunidades em que um padre precisa de outro para o ouvir, aconselhar, absolver.
O que se disse e ouviu, foi com ele e irá comigo, quando chegar a minha vez. É o sigilo sacramental. Já tive que o invocar, diante dum magistrado público: em tempos em que na Escola Secundária de Paredes de Coura eu estava no Conselho Diretivo, um aluno cometeu um delito, a magistrada interrogou-me, sabia da verdade de fonte inconfessável e o silêncio foi a resposta.
Conheci-o jovem, a pedir boleia em Anais, vindo de Braga, em férias ou fim-de-semana favorecido, e pelo curto caminho até Ponte, onde o deixei, à porta de casa, fomos conversando.
Quando foi nomeado para Coura, coube-me em sorte fazer a apresentação por ocupação do Arcipreste de então, desta vez em Resende.
Desde então fomos colegas, amigos, confidentes.
Aquilo que não disse na explicação da palavra da oração de Completas, rezadas em coro com colegas, com o corpo presente, aquilo que não disse na homilia que me pediram para fazer na Missa Exequial, porque então tinha que explicar a palavra e não fazer elogio fúnebre, digo algo aqui.
Aprendi, num longínquo convívio feito em Mondariz, na Galiza, com sacerdotes do Opus Dei nos anos setenta, em fim de ano:
Quando virdes uma igreja arrumadinha, é sinal do zelo do Pároco.
O padre Eurico era um sacerdote que gostava, e de que maneira, das suas igrejas, capelas e espaços arrumados e limpos.
A reviravolta do presbitério da matriz de Paredes de Coura, a tela, o órgão e o adro do Espírito Santo, a igreja de Resende e todas as capelas das duas Paróquias mostravam o carinho e o zelo do padre Eurico.
A liturgia
Habituado em Braga, desde seminarista, trouxe consigo essa qualidade e o ar de mestre-de-cerimónias em todas as celebrações comunitárias por estas bandas e o “chantre” e explicador dos salmos, nas orações comunitárias de Laudes e de Vésperas.
As procissões
Sempre que possível, por todo o concelho, era ao Padre Eurico que entregávamos a organização das procissões e ele, de guião na mão, executava com mestria o ofício encomendado.
A música
Sofreu algumas incompreensões e azedumes, mas a música litúrgica era sua paixão bem vincada.
Um amante da sua terra
Ninguém beliscasse a grandeza e beleza, da sua terra!
Era vê-lo nas Feiras Novas, em tudo quanto era relevante, quer religioso, quer profano! Por isso o voto de louvor da Câmara Municipal de Ponte de Lima; e o mesmo fez, pela mesma paixão, a Câmara de Paredes de Coura.
Homem das bandas
Grandes Associações Musicais do centro e norte do país procuravam a sua influência para virem às festas cá de cima, quer de Coura, quer de Ponte de Lima.
Doença
Sofreu quatro anos de calvário, quando se descobriu um tumor maligno no aparelho digestivo.
Longas quimioterapias, longas viagens para o IPO, até que a pandemia o foi colocando em isolamento na sua estimada residência em Ponte de Lima, onde veio a falecer.
Deixou estruturas montadas para o futuro da pastoral em Paredes de Coura – residência para quatro sacerdotes, salão por baixo, para formação, salas de catequese e respetivos apoios.
Não será para já, mas a carência de sacerdotes dirá aquilo que os colegas sabem ser a minha opinião, na distribuição de clero por estas bandas.
Obrigado Pe. Eurico!
Pede ao Senhor por nós e nós não te esquecemos nas nossas preces.