Diante da Palavra
Ensina-nos, Senhor, a estar diante de ti. Ajuda-nos a ver-te a passar na nossa vida.
Interpelações da Palavra
“Cumpriu-se o tempo”
Jesus inaugura sempre na nossa vida um tempo inédito, que não se esgota com as nossas previsões, com os nossos programas, com as nossas espectativas, cada vez mais cansadas. “Cumpriu-se o tempo”, ou seja, esse tempo das desilusões, esse tempo da desistência, esse tempo da concorrência desleal que vivemos dentro de nós. “Cumpriu-se o tempo”, isto é, acabou o prazo de validade de um outro tempo composto de cadeias e fantasmas, mas, simultaneamente, abre-se um espaço singular, assinalado pela imagem de Jesus que passa ao longo do lago. Aliás, o primeiro gesto novo é o do próprio Jesus, que escolhe a Galileia, uma terra onde o sangue não é puro ao olhos dos seus contemporâneos, para começar um caminho novo, que não se faz sem as aldeias e as pessoas discretas.
“Vinde comigo”
Jesus troca a ordem e baralha, de novo, o nosso modo de pensar. No seu tempo, era habitual os discípulos procurem um mestre, um tutor, um guia, mas Ele procede em sentido contrário; é Ele, Jesus, quem chama. E, assim, discretamente, Marcos serve-nos este paradoxo: um Mestre que vem à procura dos seus discípulos e que os chama pelo nome; um Mestre que não se apresenta através do seu infindável currículo, mas com aquilo que é; um Mestre que não se apresenta com um programa, mas que, ao invés, nos quer ensinar a viver, e que não começa a aula sem a nossa presença. Por isso, sabermo-nos encontrados, amados e reconhecidos por Jesus é ponto de partida, e isso significa pormo-nos a caminho, não ter vergonha de amar e de ir ao encontro, porque, na verdade, o que mudou a vida aqueles homens foi terem sentido que alguém olhava para eles.
“Deixaram tudo”
Ouvimos estas palavras e sentimos o longe que estamos desta rapidez e desta velocidade. Mas, talvez, a pergunta que Marcos nos quer fazer é a seguinte: Quanto tempo demoramos a deixar? Quanto tempo levamos até renunciar? Quanto tempo demoramos a seguir Jesus? Quanto tempo nos custa até começar a partir dos últimos, amando sem porquês? E é interessante, neste aspeto, que o verbo deixar em português queria dizer, simultaneamente, largar e permitir. Deixar, não é, por isso, só renunciar, mas, também, permitir que as nossas palavras e os nossos gestos não se esgotem no nosso conforto e assim permitir que haja um outro futuro diante de nós.
Rezar a Palavra
Deus, abre o nosso coração
às portas da tua Palavra
só a tua Palavra não desertifica
porque não nos mantém na ilusão
da terra já havida e nos escava fundo
a cal antiga
dá à nossa vida a quietude móvel das barragens
quando a tarde finda
e a paz da água traz a paz de tudo
e dá ao teu mundo a sabedora dos gestos cotidianos
José Augusto Mourão
Viver a Palavra
Vou procurar permitir aquilo que tenho negado aos outros por mero egoísmo.