Diante da Palavra
Vinde, Espírito Santo, abri as comportas da minha atenção e escancarai o meu ser para que entre “o Rei da Glória!”
Interpelações da Palavra
Haverá sinais
Vem muito antes da astronomia e dos movimentos ambientalistas a ciência de fazer leituras no sol, na lua e nas estrelas. Pobreza será se destas leituras apenas se tirarem dados sobre os perigos de uma catástrofe na terra e se procurem planetas habitáveis. Como é possível que não se escute, além de tudo isso, o rumor de uma Presença que se insinua? Como não se leem as declarações de um Deus que se codifica no brilho do sol e no equilíbrio de um universo que proclama o seu amor?! Agora que já se vislumbra o Natal, a liturgia apresenta-nos esta imagem forte para sacudir qualquer adormecimento que nos esteja a paralisar, para limpar os coágulos de rotina que porventura tenham “entupido” as “glândulas” da atenção. Seriam precisas narrações apocalípticas? Lucas pensa que sim. Para nós, que vivemos no século XXI e a quem nem o medo tenaz de um vírus fez acordar, esta narração volta a soar com a força da sua pedagogia. Mas não há-de ser pelo medo, mas pelo deslumbramento; não pelo ruído, mas pelo silêncio; não pela imposição, mas pelo acolhimento, que Deus poderá entrar nas nossas portas seladas…
Erguei-vos e levantai a cabeça
Na liturgia de Advento e Natal encontramos a repetição recorrente desta recomendação sobe a postura da nossa cabeça. Não é uma prescrição de ortopedia, mas a pedagogia que nos educa o olhar rumo à leveza, à capacidade de ampliar os nossos horizontes e perspetivas. Muito frequentemente vivemos sob a ditadura de um jugo invisível de que nos volta os olhos para o umbigo. Vivemos com os olhares amarfanhados pelas urgências, abatidos pelas coisas do chão e pouco ambiciosos pelas “coisas do Alto”. Quando nos contentamos com a estria de luzes humanas, podemos perder o rasto ao fulgor de Deus que nos acende cada aurora. Mas eis que Ele “aí vem e não tardará”! Todos os dias poderíamos ver romper um sol que arde de amores no firmamento e todos os dias poderíamos reparar no brilho dos olhares que nos cercam e fazer a leitura dos segredos neles inscritos. Só a ciência de olhar o céu de Deus e de olhar o céu dos outros poderá abrir-nos os caminhos da felicidade e da paz!
Tende cuidado… que esse dia não vos surpreenda
O problema daqueles que deixaram de se surpreender… com a vida, com o ambiente, com os que os rodeiam é que precisam de forjar mil e uma embriaguez para tentar uma felicidade barata e improvável. Não são precisos dias de catástrofe para nos surpreender, mas estar atentos aos singelos milagres que dormem ao nosso lado, que acordam cada manhã, que sustentam os dias e que recebem o toldo estrelado da noite. É tempo de acolher o Deus que nunca deixa de nos surpreender, na mansidão da Palavra, na fragilidade de uma criança, no pão da Eucaristia. É tempo de responder a este Deus que nos quer erguidos, protagonistas com Ele da criação. Advento é tempo de fazer da própria vida uma surpresa para si e para os outros, oferecendo-a de presente, tornando-a palavra, presença e pão. Tornando a vida Evangelho, porque o Evangelho é sempre uma surpresa!
Rezar a Palavra e contemplar o Mistério
Senhor do sol, da lua e das estrelas e do brilho dos olhares que me rodeiam, eu te contemplo!
Senhor do rugido e da agitação do mar e da paz que há no silêncio, eu te contemplo!
Senhor das forças celestes e da brisa suave que me acaricia a face, eu te contemplo!
Senhor dos vulcões e dos sismos e do alarme de cada encontro, eu te contemplo!
Senhor que estás nas preocupações da vida e nos segredos da oração, eu te contemplo!
Senhor dos fortes, dos que gritam, e dos frágeis que não têm voz, eu te contemplo!
Senhor do Advento, do Natal e de cada tempo que te chama “Vem, Senhor”, eu te acolho!
Viver a Palavra
Esta semana vou estar atenta às comezinhas coisas de todos os dias e através delas dialogar com Deus!