Diante da Palavra
Vem, Espírito do Senhor, iluminar este tempo, para que o modo de ser de Jesus me contagie.
Interpelações da Palavra
Estamos no pórtico da Semana Santa. Jesus sofreu a Cruz por sua atitude e postura de homem livre frente à estereotipia morta de uma religião legal, frente à ignorância com que o levaram à morte (não sabiam o que faziam), para testemunhar da Vida sem fim, para contrariar a linguagem do mundo. Estamos a seguir os passos daquele que a multidão acolhe hoje – Jesus como um triunfador – e para quem, quatro dias depois, pede a crucifixão. Afirmamos a vitória e, ao mesmo tempo, sabemos que ela é invisível, silenciosa, escondida na hora em que Jesus entra na Paixão e nós no calvário das nossas vidas. Hoje, a festa é essa mistura inacreditável do silêncio, da humildade de Deus que vela ainda pelo poder que subverterá o mundo e a sua divisão do visível e do invisível e nos abrirá as portas do Aberto.
“Senhor, onde é que queres celebrar a Páscoa este ano?”
Os discípulos vêm perguntar a Jesus “Senhor, onde é que queres celebrar a Páscoa este ano?” e Jesus diz “Ide dizer a casa de tal pessoa: o Senhor mandou dizer «Este ano é em tua casa que Eu quero celebrar a Páscoa.»” Nós não sabemos que pessoa é essa, é um anónimo. Mas o facto de na narrativa permanecer anónimo permite hoje que cada um de nós, leitores auscultadores desta narrativa, sintamos, porque é mesmo assim, que o Senhor diz ”Olha, este ano é em tua casa que Eu quero celebrar a Páscoa.”
Jesus, desce até aos fundos abissais do sofrimento humano para me abraçar, para me resgatar, para dizer a cada momento da nossa vida: “Tu não estás só. Eu já estive aí, eu já estive aí.” No lugar da nossa dor, do nosso dilema, do nosso impasse, da nossa miséria, do nosso sofrimento, do que nós não conseguimos aceitar nem compreender. Jesus pode dizer com verdade ao nosso coração: “Eu já estive aí, Eu já estive aí.” Ele esteve em todos os lugares onde o homem é vítima, onde a nossa humanidade é crucificada. “Eu já estive aí. Por isso, eu posso estar contigo a cada momento da tua vida.” Sintamos que este relato hoje nos é confiado, confiado a cada um de nós. E o que vamos fazer com isto? O que vamos fazer com esta história?
“Salvaste os outros, não podes salvar-te a ti mesmo”
Aquele insulto que dirigiam a Jesus “Salvaste os outros, não podes salvar-te a ti mesmo” é, no fundo, a chave da sua própria vida. Exatamente porque numa dinâmica de amor, Jesus se dispõe a abraçar-nos, a sustentar as nossas vidas, as nossas humanidades, a dar a vida por nós, a amar-nos. Exatamente porque Ele se dispõe a amar-nos, Ele não pode salvar-se a si mesmo. Porque o que é próprio do amor é esse deixar de pensar em si. É esse abandono, é essa pobreza radical, é essa entrega, em que o outro, o outro, é colocado no centro. Nós estamos no centro do gesto de Jesus. Da sua história de amor, da sua entrega. Nós somos consequência desta história, deste gesto, desta dádiva.
Rezar a Palavra e Contemplar o Mistério
Abre, Senhor, o meu coração e os meus olhos
Para contemplar o teu mistério de amor:
Que eu possa entender, no silêncio,
Tão grande mistério de vida e de morte,
Que me surpreende todos os dias.
Viver a Palavra
Vou tornar esta semana uma oportunidade para a sinceridade de quem abre portas à possibilidade de amar autentica e generosamente.