Diante da Palavra
Abre, Senhor, os nossos olhos à compreensão do que vemos, e descalça os nossos pés do comodismo e da distância.
Interpelações da palavra
Com a Ascensão, os Discípulos têm de aprender uma coisa que até aí não sabiam, que é viver a presença de Jesus na sua ausência. Viver em Jesus não O vendo, não O encontrando, não contando com Ele, com a Sua presença física e visual no dia-a-dia. É um processo de maturidade necessário, do mesmo modo que, com a idade adulta, passamos a contar com os nossos pais não só fora de nós, mas dentro de nós. E essa presença dentro de nós passou a ser fortalecedora e, a um dado momento, como que passou a ser suficiente para que começássemos a viver autonomamente.
Por isso, Esse processo, que é o processo fundador da autonomia de cada um de nós, também é, de certa forma, o processo que acontece no crescimento da vida cristã. Os Discípulos começaram com Jesus, partilhando 24 horas por dia a sua existência com Ele, comeram e beberam com Ele, ouviram a Sua palavra, escutaram os Seus silêncios. E, agora, Jesus está-lhes oculto por uma nuvem. Mas isso não quer dizer que eles perderam Jesus. A Igreja não perdeu Jesus na Páscoa. Nós ganhamos Jesus de outra forma, ganhámos a Sua presença em nós.
Neste sentido, é interessante aquilo que Jesus diz e o papel em que Ele se coloca. Ele diz: “Eu cooperarei convosco, confirmando a vossa palavra.” Não somos apenas nós que cooperamos com Jesus, que somos cúmplices, parceiros do projeto de salvação, de transformação, de revitalização da ordem do mundo que Jesus vem trazer. Jesus também coopera connosco. E por isso, nós não estamos sós. Não contamos apenas com a nossa fragilidade, não contamos apenas com o que temos, com o que trazemos, com o que somos. Contamos com mais, valemos mais.
Com efeito, «a Ascensão não é um percurso cósmico, mas a navegação do coração que te conduz do fechamento em ti ao amor que abraça o universo» (Bento XVI), indicando que não existe no mundo só a força de gravidade para baixo, mas também uma força de gravidade para o alto, que nos faz erguidos, que faz verticais as árvores, as flores, a chama, que levanta a água das marés e a dava dos vulcões. Como uma nostalgia de céu.
Por conseguinte, na ascensão, impele os discípulos a pensar em grande e a olhar longe, com que dizendo “o mundo é vosso”. E fá-lo porque acredita neles, apesar de terem entendido pouco, apesar de terem traído e renegado, e muitos ainda duvidam.
Rezar a Palavra
Senhor, guarda em nós a tensão
entre o desejo do céu e o
serviço ao mundo,
dá-nos a graça de adivinhar o
Cristo por detrás da nuvens,
separa-nos do que nos afasta
do fulgor da Tua glória
Viver a Palavra
Ensaiar gestos de desprendimento e
aprender a reconhecer Cristo nas comunidades a que pertenço.