“Todos os dias parecem surgir novas provas de abusos, bem como de encobrimento e de má gestão por parte dos responsáveis da Igreja, em todo o mundo”, começa por salientar o comunicado da Comissão, aludindo não apenas àqueles casos que “são objeto de intensa divulgação” nos meios de comunicação social, mas também os que são menos conhecidos ou ficam remetidos ao silêncio.
Sublinhando que não se trata apenas de “traição dos abusadores, mas da própria instituição eclesial”, a CPPM faz notar: “todos os abusos envolvem a angústia e a dor de uma terrível traição, não só por parte do abusador, mas também por parte de uma Igreja incapaz, ou mesmo sem vontade, de reconhecer a realidade das suas ações”.
A Comissão do Vaticano cita, sem nomear, “casos recentes relatados publicamente”, que “apontam para deficiências tragicamente prejudiciais nas normas destinadas a punir os abusadores e a responsabilizar aqueles que têm o dever de combater os atos ilícitos”, que se aplicam às notícias mais recentes sobre as consequências dos abusos do padre esloveno Marko Rupnik.
“Continua a existir uma resistência inaceitável” que “aponta para uma escandalosa falta de determinação por parte de muitos na Igreja, que é frequentemente agravada por uma grave falta de recursos”, denuncia o documento.
Reconhece, a este propósito, que, cinco anos após a Cimeira de 2019 sobre a Proteção de Menores, que reuniu responsáveis católicos de todo o mundo, a Igreja não tem conseguido “corrigir as falhas nos procedimentos que deixam as vítimas feridas e na ignorância, tanto durante como depois de os casos terem sido decididos”.
Vítimas deveriam poder intervir no Sínodo
Nessa linha da responsabilização da Igreja, prossegue o texto: “Ouvimos e ficamos perturbados com os relatos das ações de pessoas que ocupam cargos de responsabilidade na Igreja, com os gritos das pessoas afetadas, bem como com o legado de comportamentos atrozes associados a movimentos leigos e outros, e a tantas áreas da vida institucional da Igreja. Estamos profundamente abalados com a imensa dor, o sofrimento duradouro e a revitimização, experimentados por tantas pessoas, e condenamos inequivocamente os crimes e a sua impunidade, perpetrados contra tantos dos nossos irmãos e irmãs”.
Dirigindo-se, em especial, aos membros da assembleia sinodal que iniciarão, no próximo dia 4 de outubro, a primeira sessão do Sínodo, a Comissão alerta que uma mudança efetiva neste campo não ocorrerá “sem a conversão dos líderes da Igreja” e expressa o entendimento de que, pela sua natureza, a realidade dos abusos sexuais “está no centro da agenda do Sínodo”, devendo ser incluída em debates sobre “modelos de liderança, funções ministeriais, padrões profissionais de comportamento e modos de estar corretamente em relação uns com os outros”. “Exortamos-vos a dedicar tempo e espaço significativos para integrar o testemunho das vítimas/sobreviventes no vosso trabalho” do Sínodo – é o apelo final da Comissão Pontifícia.