“Com coração de pai: assim José amou a Jesus, designado nos quatro Evangelhos como «o filho de José». Sabemos que era um humilde carpinteiro, desposado com Maria; um «homem justo», sempre pronto a cumprir a vontade de Deus manifestada na sua Lei e através de quatro sonhos. Depois de uma viagem longa e cansativa de Nazaré a Belém, viu o Messias nascer num estábulo, «por não haver lugar para eles» noutro sítio. Foi testemunha da adoração dos pastores e dos Magos. Teve a coragem de assumir a paternidade legal de Jesus, a quem deu o nome revelado pelo anjo. Entre os povos antigos, dar o nome a uma pessoa ou a uma coisa significava conseguir um título de pertença, como fez Adão na narração do Génesis.
No Templo, quarenta dias depois do nascimento, José – juntamente com a mãe – ofereceu o Menino ao Senhor e ouviu, surpreendido, a profecia que Simeão fez a respeito de Jesus e Maria. Para defender Jesus de Herodes, residiu como forasteiro no Egito. Regressado à pátria, viveu no recôndito da pequena e ignorada cidade de Nazaré, longe de Belém, a sua cidade natal, e de Jerusalém, onde se erguia o Templo. Foi durante uma peregrinação a Jerusalém que perderam Jesus (tinha ele doze anos) e José e Maria, angustiados, andaram à sua procura, acabando por encontrá-Lo três dias mais tarde no Templo, discutindo com os doutores da Lei.
Depois de Maria, a Mãe de Deus, nenhum Santo ocupa tanto espaço no magistério pontifício como José. Os meus antecessores aprofundaram a mensagem contida nos poucos dados transmitidos pelos Evangelhos para realçar ainda mais o seu papel central na história da salvação: o Beato Pio IX declarou-o «Padroeiro da Igreja Católica», o Venerável Pio XII apresentou-o como «Padroeiro dos operários»; e São João Paulo II, como «Guardião do Redentor». Assim, ao completarem-se 150 anos da sua declaração como Padroeiro da Igreja Católica, a 8 de dezembro de 1870, gostaria de partilhar convosco algumas reflexões pessoais sobre esta figura extraordinária, tão próxima da condição humana. Tal desejo foi crescendo ao longo desta pandemia em que pudemos experimentar que «as nossas vidas são tecidas e sustentadas por pessoas comuns (habitualmente esquecidas), que não aparecem nos jornais e revistas nem nas passarelas, mas que hoje estão a escrever os acontecimentos decisivos da nossa história: médicos, enfermeiras e enfermeiros, trabalhadores dos supermercados, pessoal da limpeza, curadores, transportadores, forças policiais, voluntários, sacerdotes, religiosas e muitos outros. Quantas pessoas exercitam a paciência e infundem esperança, não semeando pânico, mas corresponsabilidade! Quantos pais, mães, avôs e avós, professores, mostram às crianças, com pequenos gestos, como enfrentar e atravessar uma crise, readaptando hábitos, levantando o olhar e estimulando a oração! Quantas pessoas rezam, se imolam e intercedem pelo bem de todos». Todos podem encontrar em São José – o homem que passa despercebido, o homem da presença quotidiana discreta e escondida – um intercessor, um amparo e um guia nos momentos de dificuldade. São José lembra-nos que todos aqueles que estão, aparentemente, escondidos ou em segundo plano, têm um protagonismo sem paralelo na história da salvação. A todos eles, dirijo uma palavra de reconhecimento e gratidão.”