Este moderador disse ser necessário “pensar no que este livro nos pode dizer hoje”, escrito por um teólogo “permanentemente crítico sobre aquilo que é Deus” e que “ama a Humanidade”. Antes de escutar o que o convidado tinha a dizer aos presentes que encheram a sala da Biblioteca, outro dos moderadores, Sobrinho Simões, reconheceu que tem aprendido “muito com ele”, uma pessoa que recebeu o Honoris Causa, mas “ninguém fala nisso”.
Recordando que “nasceu” no Instituto Superior de Ensino da Teologia, em 1966 – “a única escola democrática do país”, em que os professores eram escolhidos pelos alunos –, Frei Bento Domingues referiu que este tipo de ensino não tinha equivalência universitária após a proclamação da República, assistindo-se na atualidade a um “pluralismo religioso”, com o aparecimento de “um movimento de crescente diversificação”. Assinalou que “os portugueses são uma mistura” em que “Fátima é o cais de Portugal”, um país cujos habitantes andaram sempre “fora de portas”. Assinalou que “as religiões são uma grande força no mundo, para o bem e para o mal”, capazes de “suscitar a presença” de Deus. Através de frases concisas e profundas, Frei Bento Domingues foi explanando as suas ideias sobre os mistérios teológicos, desde a afirmação de que “Cristo não queria a morte”, tendo sido “morto e crucificado”, pelo que “se sentiu perdido na Cruz”. Mas como sempre pretendeu “destapar o horizonte às pessoas, no momento em que Lhe tiram a vida, Ele perdoa-lhes – dá-lhes vida”. Nesta linha de pensamento, este teólogo assegurou ser necessário “descrucificar o cristianismo”, porque, acrescentou, “Deus é a respiração do nosso caminho”. Esse Deus que “nunca ninguém O viu”. Mais adiante, admitiu que “gosto muito da religião, saí da religião”, levando-o a dizer que “antes do 25 de Abril, as pessoas eram católicas, mas andavam distraídas”, existindo ainda “uma distração em relação ao futuro”, levando a que “falte o sentido de cidadania”.
A abordagem ao Papa Francisco não foi deixada em branco, tendo aproveitado para relembrar as suas palavras: “A guerra não é solução para nada”. Sempre baseado em Jesus, Frei Bento Domingues vincou que “a religião só vale como indignação” e recordou que “a tentação do poder de dominar é o mais perverso nos humanos”. Mas tanto no passado como no presente, “todos os impérios acabam no charco”. Terminou a falar da catequese que “deve ensinar a pensar e não a dar soluções”, porque, destacou mais adiante, “a ignorância ensinada não dá”.