A religiosidade popular estrutura-se numa cultura que possui a sua expressão específica. É a expressão da busca de Deus e da fé, de cada modo de viver e estar no mundo. Está enraizada numa cultura, não de saber intelectual profundo, mas uma cultura marcada por um conjunto de valores, de ritos, de cerimónias, de romarias, que a diferenciam de todas as outras. A piedade popular é marcadamente festiva. Nela são exaltadas a bondade de Deus, que concede até os frutos da terra, a vida, a amizade, a fraternidade… Os costumes tradicionais cristãos das nossas aldeias, as práticas de piedade, as devoções marianas, a festa dos padroeiros, as procissões, as imagens dos santos e muitas outras expressões exteriores, são marcas exemplificadoras dessa alegria partilhada nas festividades. Ela é essencialmente rica em valores tais como uma abertura ao absoluto, reconhecendo a fragilidade do homem e buscando em Deus a firmeza; o sentido de pertença a um povo que Deus escolheu para realizar um projeto; a misticidade que consegue criar e descobrir nas celebrações litúrgicas; passando além da exterioridade, atentam ao ambiente que os rodeia (entoação, pausas, silêncio…); é, ainda, entre este tipo de pessoas que encontramos as maiores virtudes evangélicas, como a solidariedade para com os pobres, o testemunho de fé viva de quem crê verdadeiramente mas que pretende que essa fé se contagie, a capacidade de sofrer com resignação, vendo nesse sofrimento não um castigo de Deus (por vezes), mas a manifestação da Providência divina.
Em determinadas circunstâncias, a religiosidade popular pode favorecer a evangelização. Num tempo em que o homem se fecha na sua cultura egoísta, é função desta religiosidade intensificar e testemunhar uma experiência religiosa superior. Em cada pessoa há um ser religioso que procura Deus, apesar de muitas vezes O querer encontrar fora de si, nas cerimónias, nos ritos, nos textos. A religião popular é uma Praeparatio evangelica (cf. Juan Martín Velasco, Encreencia y Evangelización, 202), ou seja, é um ponto de partida para a nova evangelização. A riqueza desta religiosidade tem de se difundir aos que necessitam de atos externos para confirmar a fé. A expansão do Evangelho tem de passar, também, pelos atos externos porque esses são testemunho, “cultivo de admiração, intensidade afetiva, solidariedade e participação, densidade simbólica” (cf. idem, 201), tudo isto valores evangélicos ricos da religião popular que devem ser comunicados.
Na Paróquia de Venade, Arciprestado de Caminha, a festa em honra do Senhor da Saúde e Nª Sra. das Dores está povoada de elementos de piedade popular: a oração dos “romeirinhos ao Senhor da Saúde”, a bênção dos frutos novos, as orações de sufrágio no cemitério pelos falecidos que “a doença levou”, as procissões, as orações (passadas de geração em geração) que se fazem antes de trabalhar: lavrar, semear, colher o milho ou desfolhá-lo, após amassar o pão ou ao abrir o forno… Estas festividades em honra do Senhor da Saúde e Nª Sra. das Dores podem ser um contributo para preservar a tradição de um povo religioso que se veste com os trajes pobres para trabalhar, mas que se apresenta no Domingo com roupa de “ver a Deus”, para “Deus os ver”. Assim, dia 20: lagarada (pisar e ralar as uvas); dia 21: desfolhada minhota; dia 22, Domingo: cortejo das primícias e leilão dos dons; dia 29, Domingo, 16:00: Eucaristia seguida de Procissão.